eu SCUTO, tu SCUTAS, ele SCUTA,...
peço desculpa, digníssimo leitor, mas a política tem aspectos que não posso deixar de apreciar como metafísicos.
se lhe aceder ao pensamento qualquer coisa do género: outra alienada!, tem absoluta razão e tiro-lhe o chapéu, é, efectivamente, um apercebimento ilustre.
mas não é só a política, em si, é todo o folclore a nascente, os jornalistas, os comentadores políticos, a opinião pública, etc., etc.
a actividade jornalística deveria ter como pressuposto informação certificada, mas assistimos aos grandes títulos jornalísticos extremamente bem decorados, uma espécie de travesti, resguardando-nos do essencial.
vejamos um exemplo:
hoje na TSF, a grande notícia é a adjudicação de estudos sobre as SCUT, por ajuste directo, a uma empresa fundada por um adjunto do secretário de estado das Obras Públicas, ao que parece, o adjunto de Paulo Campos (SEOP), dois dias antes de ser nomeado como adjunto, cessou funções como administrador na empresa (conferir Jornal O SOL e TSF).
a confecção picante da notícia: os estudos foram adjudicados por ajuste directo, remetendo para um pensamento prosaico: estes gajos é tudo a mesma trampa (para ser absolutamente simpática com os ouvintes, algo que é bem-parecido ter em conta).
é, aliás, abundantemente trivial, pressupor-se que qualquer trabalho adjudicado pelo estado esteja sujeito a um concurso público, mas isso faz parte do senso comum e pouco picante para os jornalistas em causa, génios da notícia e talentosos renovadores.
mas encaremos o tratamento da notícia como séria e certificada, pois a jornalista da TSF e de O SOL até a finalizam da seguinte forma: "Fonte oficial do MOP diz que os valores dos dois estudos não obrigam à contratualização por concurso público".
ambos os jornalistas prestaram um serviço singular à opinião pública: consideraram irrelevante sabermos o valor em causa, isto é qual a quantia subjectiva que torna dispensável a imparcialidade de um concurso público.
caríssimo leitor, não pense que considero de todo aceitável que um membro do governo esteja envolvido em altercações de género, mesmo que Gueifão, o tal adjunto, tenha vendido os 20% do capital social da F9 Consulting, a empresa envolvida no show erótico.
contudo, também lhe daria a seguinte piscadela de olho inaceitável: uma coisa é o político, outra coisa é o cidadão comum.
efectivamente quem anda por aí, depara-se, com raríssimas situações de género, e se puder até nem concorda e nem amarfanha uma pitada deste género de especiaria deveras apimentada.
é de bom-tom desancarmos nos políticos por fugirem aos impostos, porque todos nós damos esse digníssimo ensinamento, como na compra de uma casa, por exemplo, a maior parte do cidadão comum faz questão de assinalar, na escritura, o dobro do seu valor, pois o cidadão comum é um digníssimo exemplar, digno de exemplo.
mais uma piscadela de olho: se todos damos o exemplo, é mais que óbvio que todos façamos parte da excelentíssima comissão dos bons costumes.
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