quinta-feira, outubro 26, 2006

Do Optimismo

Dia a dia, vivem num fingimento completo. Ao acordar, fingem que a discussão da noite passada está ultrapassada, quando mais não está do que guardada para servir de arma de arremesso na próxima. Na casa de banho, colocam todas as mistelas necessárias à ocultação da fealdade do odor e do aspecto corporais. Entram no carro com os filhos e, enquanto falam enlevadamente com eles, transformam-se em sicários na estrada. Chegam ao trabalho a sorrir para fingir o contentamento com aquele emprego. Ao almoço, comem uma asséptica pasta com um nome estrangeirado, bebem uma zurrapa de pé, caro, regozijam-se pela sorte de ter meia hora de almoço e por nunca terem comido uma mixórdia tão parecida com um manjar dos deuses. Chegam a casa cansados, derrotados e fingem interessar-se pelos problemas da/o companheira/o e pelas notas dos filhos. Na cama, enquanto fazem amor, ele finge pensar nela, enquanto ela finge um orgasmo. Ambos se apercebem, mas como já houve discussão ontem, fingem que foi o melhor de sexo toda a vida. Dormem, acordam e repetem.
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