sexta-feira, setembro 15, 2006

O Pacto. Tragicomédia em vários actos (I)

Cave de um prédio, algures na baixa lisboeta. Iluminação fraca. Cheiro a fósforos queimados.

Dr. Mendes, batendo à porta:
- Abri, abri, por Portugal

De dentro:
- Qual a graça?

Dr. Mendes:
- PS e PSD: por Portugal e por você

Abre-se a porta. O Engenheiro dirige-se aos acompanhantes do Dr. Mendes:
- Dr. Moura, como está? Dr. Guedes, então como vai isso?

Dr. Mendes, ligeiramente nervoso:
- Boa tarde, Sr. Primeiro

Engenheiro:
- Ah, você também veio? Boa tarde!

Dr. Moura, despindo a gabardine:
- Questão simples e assaz compreensível (tirando um papel do bolso): vocês cedem nisto, nós cedemos naquilo. Pela Pátria! Com os jornais, não se preocupem. A operação limpeza prossegue a bom ritmo. E, porventura necessária, contarão sempre com a minha pena, já envelhecida porém sempre disponível para zurzir alguns lombos!

Engenheiro:
- óptimo, óptimo… (virando-se) Eh, pá: como é que se diz “óptimo” em finlandês?

Dr. Coelho, saindo da sombra:
- Ora deixem cá ver a versão final

Dr. Moura:
- Cá a têm. Repare no português à Manuel Bernardes. Convém a elegância e, além disso, joga-se com a ambiguidade, factor sempre mui necessário em se tratando de leis.

Engenheiro, aproximando-se:
- Muito bem, muito bem… All right, all right.
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