quarta-feira, setembro 20, 2006

O Bairro e as gentes















Eduardo Pitta deu o mote, e o seriado já vai no episódio 10.

Como comecei a frequentar a noite do Bairro Alto em meados da década de oitenta, não posso deixar de achar estranho que alguns bloggers considerem que o Bairro de hoje está pior do que o Bairro de há duas décadas atrás.

É verdade que a rapaziada da nova geração – que invadiu as ruas do Bairro com os seus copos de plástico cheios de cerveja choucha –, fuma charros atrás de charros com a mesma descontracção de quem fuma um cigarro num outro qualquer espaço público. Porém, nos ditos “saudosos” tempos áureos do Bairro, as ruas estavam entregues aos pintas; o dialecto mais auscultado era o calão; e os becos e WC’s estavam assolados de seringas, restos de pratas queimadas, limões, ratos, baratas, e ratazanas mortas.

A realidade é que o velho Bairro Alto, que alguns parecem agora querer evocar, tinha um ambiente verdadeiramente asqueroso, repleto de gente gordurosa e malcheirosa. Se bem me lembro, não havia esquina, beco, viela, porta ou janela por onde não espreitasse um chunga meio aciganado com uma naifa romba, um pseudo fadista cirroso, ou uma puta velha, desdentada, desgrenhada, e remelosa. O constante fedor que habitava naquela zona esquecida da cidade era adequada à sua fauna – mais pungente que o odor emanado por uma sarjeta imunda.

Há cerca de 20 anos, as tradicionais tabernas e leitarias de bairro começaram a dar lugar a bares ranhosos - com nomes mais ou menos pomposos, mais ou menos patetas, mais ou menos surrealistas -, que serviam bebidas alcoólicas adulteradas, em copos de vidro rasurados nas bordas por lanhos amarelados, e ainda besuntados pelas bocas e mãos untuosas dos fregueses da última semana.

Apesar de tudo, e de também não conseguir de deixar de recordar com alguma saudade alguns locais emblemáticos daquela época (Ocarina, Frágil, Gingão, Três Pastorinhos, Sudoeste, Lábios de Vinho), tenho de reconhecer que o passar dos anos trouxe ao Bairro novos espaços, com propostas mais agradáveis, mais civilizadas, e mais adequadas ao gosto das mais e menos hodiernas tribos urbanas.
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1 Comments:

Blogger Nancy Brown said...

fui lá duas ou três vezes, nada q tivesse deixado marcas. gosto mais da mistura incoerente dos estilos: pretos, brancos, vermelhos, verdes e azuis. essa coisas de ali serem os betos, acolá os punks, acoli os alternativos, não tá comigo.

quinta-feira, setembro 21, 2006 9:58:00 da manhã  

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