quinta-feira, setembro 14, 2006

gente que não tem mais nada que fazer

sentada no canto esquerdo da porta principal, cabisbaixa, aguada, no lado de lá da porta frontal as outras bichanando desassossego. contornando o motivo continuou fazendo de conta de seu taciturnismo, um soturno decadente seguindo um ou outro pensamento ilativo. a outra sentou-se junto dela, as mãos buscando sintomas de nervosismo, os pés desconversando cansaço.

- já estavam a falar de mim, eu sei, esta gente! – ela destronando o conclusivo.

- como sabes que falam de ti? – a outra alheando o reflexivo.

- bichanam e olham pra mim – ela convencendo o obviamente.

- sabes… há dois tipos de pessoas: as que dominam a imaginação e a transtornam criando; e as outras, as que se deixam domar pela imaginação e realmente se perturbam – a outra discreteando o complexo.

- ahum, não percebo nada do que estás a dizer – ela incentivando o imaculável.

- é, deixa lá, mas olha… não imagines o que os outros dizem sem eles to confirmarem por escrito, afinal uma escrita criativa é bem mais interessante do que uma previsível – a outra desvinculando o devaneio.

- eu acho qu’elas ‘tavam a falar de mim e do Ricardo, esta gente não tem mais nada pra fazer.

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