terça-feira, junho 06, 2006

tenham medo... muito medo...

Como se a Terra corresse
Inteirinha atrás de mim
O medo ronda-me os sentidos
Por baixo da minha pele
Ao esgueirar-se viscoso
Escorre pegajoso
E sai
Pelos meus poros
Pelos meus ais
Ele penetra-me nos ossos
Ao derramar-se sedento
Nas entranhas sinuosas
Entre as vísceras mordendo
Salta e espalha-se no ar
Vai e volta
Delirante
Tão delirante
É como um sonho acordado
Esse vulto besuntado
A revolver-se no lodo
A deslizar de uma larva
Emergindo lá do fundo
Tenho medo ó medo
Leva tudo é teu
Mas deixa-me ir
[...]

Fausto, "Como um sonho acordado" (1982)

Há muito que ando para pôr aqui esta letra, mas tem faltado oportunidade. Forço, agora, um bocadinho pela frincha aberta pelo simbolismo do dia... Esta é uma das minhas músicas preferidas de Fausto. Ouço-a desde que me lembro, muito antes de sequer me dar ao trabalho de perceber o dizia a letra - Fausto tem destas coisas: sonoridades absorventes! Mas eventualmente acabaria por reparar na letra, e, no dia em que o fiz,... assustei-me! - Fausto também consegue ter disso: uma descrição extremamente visceral. Deixo aqui só um excerto, com a promessa de que a ela hei-de voltar, também para falar mais alguma coisinha sobre a obra de Fausto. Entretanto... tenham medo... muito medo!...
Partilhar