quarta-feira, junho 21, 2006

o eduquês*

em discurso directo, objectivo e claro, Nuno Crato, argumenta sobre o estado do ensino da matemática em portugal.
vocifera contra o faz de conta:
não estamos assim tão mal!
dos sucessivos responsáveis pela educação no nosso país.
há muito que deveríamos ter sido assim tão
murro no estômago
clarificados.
e graças a deus que encontrei alguém que pensa como eu:
é impossível aprender algo, sem alguma carga de sofrimento!

centremo-nos nas conclusões:

"(...) o ensino não precisa de reformulações drásticas nem de reviravoltas pedagógicas revolucionárias.
(...) Ao invés de procurar sempre alternativas milagrosas e soluções radicais, pensamos que é necessário consolidar métodos provados e adoptar mudanças apenas para o que a experiência mostra poder funcionar" p. 115

isto é deixemo-nos de ideais românticos, como por exemplo, o ensino centrado no aluno. o ensino deve ser centrado na consolidação e procura de conhecimentos, o aluno felizmente tem de aprender!

"(...) é preciso centrar forças nos aspectos essenciais do ensino, ou seja, na formação científica de professores, no ensino das matérias básicas, na avaliação constante e na valorização do conhecimento, da disciplina e do esforço.
Em particular, é necessário que os professores, tanto preparados nas Escolas Superiores de Educação como nas Universidades, tenham uma formação básica coerente nas matérias básicas e nas matérias da sua especialidade. É indesculpável que um professor - qualquer professor! - não saiba escrever, cometa erros de ortografia graves, tenha limitações sérias no vocabulário, não faça ideia do que é a queda dos graves, não saiba somar fracções ou confesse "horror à matemática"" p.117

é verdade que um dos principais falhanços no ensino, centra-se, inevitavelmente nesta questão. a formação científica, deficiente, da maior parte dos professores. como se fosse possível, por exemplo, ensinar matemática sem se saber a tabuada. as ideias românticas construtivistas de que é possível desconstruir alguma coisa, sem ter o mínimo conhecimento sólido sobre o assunto.

"É necessário reafirmar que o essencial na formação de professores é o conhecimento da matéria que ensinam.
(...) Infelizmente, muitas escolas superiores seguem o caminho contrário e concentram-se no ensino de teorias e métodos pedagógicos, esquecendo os conteúdos disciplinares. Se é verdade que a formação pedagógica é útil e necessária, também é preciso reconhecer que ela não se pode tornar o aspecto central dos cursos de professores." p. 117-118

infelizmente foi esta (e continua a ser?) a realidade dos últimos anos. a profissionalização dos professores centrou-se mais no aparato dos métodos pedagógicos do que na transmissão científica e aprofundada dos conhecimentos. é incrível o desgaste de tempo com o acessório das didácticas. os orientadores/supervisores/responsáveis das faculdades pelo estágio profissional dos professores, aclamam uma aula-enxurrada-de-berloques-inócuos em detrimento da preparação científica do professor, tendo como objectivo colmatar, durante o estágio, as suas principais dificuldades.

é verdade que o ensino actual terá de jogar com outros apetrechos didácticos, contudo empenharmo-nos na motivação, sem termos o mínimo objectivo científico, é privilegiar o acessório.

* Crato, Nuno, O 'Eduquês' em Discurso Directo, Lisboa, Gradiva, 2006, 6.ª edição, p.131.
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8 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Ai qwertiana complicada dum raio: porque é que na bibliografia escreveu "Crato, Nuno" e não "Nuno Crato".

quarta-feira, junho 21, 2006 9:47:00 da manhã  
Blogger cristina said...

- "encontrei alguém que pensa como eu:
é impossível aprender algo, sem alguma carga de sofrimento!"

-- Já somos três!

Este post fez-me lembrar um outro de há uns dias no "fuga para a vutória" citando também Nuno Crato (em entrevista na Pública):

Animar, assistir, mediar, apoiar, substituir, avaliar...

«Quem escreveu o novo estatuto da carreira docente conseguiu introduzir um artigo que liquida toda a capacidade de avaliação dos professores. Trata-se do artigo sobre o conteúdo funcional da docência (32º-2), aquele que estipula quais são as funções dos professores. E as funções dos professores deixaram de ser "ensinar". (...) Aliás, curiosamente a palavra "ensinar" não aparece uma única vez no documento, que tem 55 páginas».

- Portanto, "o aluno felizmente tem de aprender!" está em risco de deixar de ser uma verdade assim tão evidente...

quarta-feira, junho 21, 2006 9:56:00 da manhã  
Blogger cristina said...

Errata ao comentário anterior: O blog referido acima é o "fuga para a vitória".

Luis:
Deixa a menina! Falou bem e claro e, desta vez =) , nem está a complicar. Ela tem razão: regras de indicação bibliográfica, sr.doutor.

quarta-feira, junho 21, 2006 10:04:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Cristina:

Mas alguém disse que ela não tinha falado bem?

quarta-feira, junho 21, 2006 10:39:00 da manhã  
Blogger sabine said...

Ena! Finalmente alguem neste blogue leu o livro! ;)

quarta-feira, junho 21, 2006 8:56:00 da tarde  
Blogger Pitucha said...

Nancy
Eu acho que tem tudo a ver com a ideia peregrina de que temos que ser todos e sempre muito felizes...
Beijos

quarta-feira, junho 21, 2006 10:12:00 da tarde  
Blogger António Gomes said...

Abaixo ao romantismo!

quinta-feira, junho 22, 2006 1:36:00 da manhã  
Blogger a.leitão said...

Parece que afinal ainda sobram alguns Portugueses lúcidos!

quinta-feira, junho 22, 2006 3:24:00 da manhã  

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