"Esta é a ditosa pátria minha amada"
Ontem, passei algum tempo falando (gerúndio mais do que propositado) com uma brasileira. Inevitavelmente, lá me disse o que achava de Portugal, e dos portugueses. Que levamos tudo à letra, enquanto eles, brasileiros, usam metáforas abundantemente. Que, digamos o que dissermos, somos conservadores e pessimistas. Que tratamos mal os estrangeiros - e aqui, conta-me duas ou três situações e partilha o desencanto que outros seus compatriotas sentem. Etc. Não reajo. Quero lá saber. Talvez sim, talvez não. "O português é uma abstracção, como o brasileiro. Acredito em conjuntos culturais, mas não acho que uma cultura corresponda a uma nacionalidade", respondo. E etc. Até que ela me diz que, em quatro anos numa Instituição de Ensino Superior portuguesa, ficou chocada. Os seus colegas pareciam alunos de Liceu. Copiavam nos exames. Não ultrapassavam os 30 segundos de conversa minimamente inteligente. Escreviam nas mesas. A avaliar pela amostra, o ensino português deve ser uma miséria. No Brasil, as coisas são diferentes. Lá, segundo ela, os alunos universitários querem aprender. Têm vergonha de copiar. Quando os professores fazem perguntas, os alunos querem responder, respondem e colocam ainda mais dúvidas aos professores. Neste ponto, engoli em seco. Admitamos que, no Brasil, as coisas sejam assim. Pouco importa. O que importa é que , mesmo reconhecendo que, em relação aos alunos portugueses, ela tinha razão, me senti incomodado. Digamos que ridiculamente incomodado. É verdade, eu, que minutos antes tinha dito cobras e lagartos dos universitários portugueses, senti-me incomodado por ouvir coisas mais suaves na boca de uma estrangeira que é quase portuguesa. A coisa chegou a tal ponto, que atingi o cúmulo da vergonha: garanti-lhe que não se deve generalizar, que há excelentes alunos e excelentes professores nas universidades portuguesas e, estupidamente, perguntei-lhe quantos prémios Nobel já tinha ganho o Brasil. Ainda me lembrei de um colega que costuma berrar que, se não fossemos nós, os brasileiros nem sequer saberiam ler - mas a sede e um copo de água salvaram-me da máxima ignomínia. Bem sei que, lá diz o povo, "quem não se sente não é filho de boa gente". O pior é que este país não merece que se sinta.
4 Comments:
Filipe: olha que há casos ainda piores do que o português.
Sinceramente, acho que deve haver maus exemplos um pouco por todo o lado.
Mas que o nosso ensino, anda muito mal, lá isso anda.
Filipe
Como te compreendo!
Basta um estrangeiro dizer algo de mal de Portugal, ainda que seja absolutamente verdade e que eu tenha acabado de dizer o mesmo a outro compatriota, para eu me sentir mal e sentir vontade de enunciar todos os podres do seu próprio país!
Ai que vida!
Beijos
Lindo!
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