sábado, junho 17, 2006

Early morning blogging

Tive há algum tempo a oportunidade de jantar à frente deste senhor, na cantina do Jesus College de Oxford. Digamos que por um lado é uma oportunidade rara, ao fim ao cabo o senhor foi espião e/ou oficial de ligação do Império Britânico junto dos Povos Árabes durante a primeira guerra mundial. A respeito deste senhor convém não esquecer que isto de ser embaixador Imperial junto de outros povos obriga uma pessoa a enfrentar dilemas de consciência algo complicados (a velha questão da Insustentável Leveza do Ser do Kundera). Por outro lado, eu sou um gajo realista, naquele caso estava lá por ter sido convidado para um copo de água, no entanto qualquer um que conheça alguém no Jesus College (o que não é difícil) e que esteja disposto a pagar (e a usar gravata) pode ir a um jantar formal do Jesus College. Adiante.

Desculpem-me ter tomado o vosso tempo com tão longas considerações iniciais. O que eu queria mesmo dizer é que nesse dia tinha do meu lado esquerdo um amigo meu e os seus pais. Do meu lado direito estava a respectiva namorada que eu tenho o condão de fazer rir com o meu romantismo de pacotilha. Estava também presente um professor de filosofia que se dedica à filosofia da mente. Depois de uma longa discussão sobre a filosofia da mente romântica quanto baste, o pai do meu amigo decide perguntar porque é que Oxford não consegue atrair académicos tão distintos como as melhores universidades americanas. A resposta foi qualquer coisa como "Ham! Eles agora querem dar mais 10.000 libras por ano aos professores, mas não é isso que vai fazer a diferença. A única forma de modificar o presente estado de coisas é deixar as universidades cobrar propinas no valor que lhes for mais conveniente".

Depois de tão sucinto resumo sobre a realidade da academia inglesa tive a oportunidade de lembrar que "assim que as universidades são livres de estabelecer o valor das propinas surgem problemas". Depois de alguma reflexão posso enunciar o problema de uma forma mais precisa: uma lei que garanta às universidades o poder de estabelecer o valor das suas propinas livremente tem também que estabelecer preto no branco quem toma essa decisão, quando essa decisão é tomada e em que moldes. É bom que nos lembremos que só são cobradas propinas a estudantes sem o grau de Doutor, e que para obter o grau a que se candidatam (seja ele qual for) esses estudantes têm que fazer exames.

Se é por esse caminho que querem ir privatizem as universidades e de caminho flexibilizem os contratos dos professores universitários, é que se queremos ser liberais não percebo porque é que somos liberais numas coisas e conservadores noutras. Mas não se esqueçam que eu sou um gajo um bocado ingénuo. Às vezes.

Bom dia.
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