domingo, junho 04, 2006

Directo ao assunto

A viagem do Papa à Polónia acabou mal. Em Auschwitz, declarou que um "bando de criminosos" tinha subido ao poder à custa do povo alemão e "usara e abusara" dele como instrumento da sua sede de poder e destruição. Esta horrível tese absolve o povo alemão e, principalmente, a Igreja Católica Apostólica Romana dos crimes do nazismo. Comecemos pelo povo alemão. Hitler chegou ao poder em parte pelo voto e em parte com a ajuda da classe dirigente imperial, que execrava a República de Weimar. Por indicação do núncio Pacelli, a Igreja manifestou o seu júbilo e apoio, e aceitou dissolver o partido e os sindicatos católicos, como em geral qualquer associação de carácter "político". Logo depois, em Março de 1933, resolveu assinar uma concordata com Hitler (também com o patrocínio de Pacelli). Em 1934, Hitler mandou pessoalmente liquidar algumas centenas de pessoas na chamada "noite das facas longas". Ninguém protestou. A Igreja, em especial, não protestou, apesar de uma das vítimas ser o secretário-geral da Acção Católica e outra o director da Organização Desportiva Católica. Não se ouviu também um múrmurio contra a legislação anti-semita, nem na Alemanha, nem na Igreja. Só em 1937, a encíclica Mit Brennender Sorge de Pio XI condenou as "doutrinas raciais" de Hitler e se queixou do incumprimento da Concordata. Mas, no ano seguinte, a chamada "noite de cristal", em que se queimaram sinagogas e se destruíram sistematicamente as lojas de judeus (para não falar nos milhares de judeus que se mataram no meio da rua) tornou a não comover a Alemanha nem a Igreja. (...) Verdade que o Papa Ratzinger precisa de "acreditar" no absurdo para explicar a total abstenção da Igreja durante a Shoah. Sem essa hipocrisia, como poderia ele perguntar "onde estava Deus" e por que "ficou silencioso", quando a pergunta necessária e certa é, evidentemente, e ele não ignora: "onde estava a Igreja" e por que "ficou silenciosa"?
Vasco Pulido Valente, Público de hoje.
Nota: Daniel Oliveira já tinha feito a mesma pergunta. Em jeito de resposta, leia-se isto.
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3 Comments:

Blogger BRUNO said...

"quando Deus não me ajudar, eu estarei cá para ajudar Deus"

Sei alguma coisa sobre essa época, mas também não tenho vontade em rivalizar conhecimento com ninguêm.

mas o que posso adiantar, é que entre 29 e 52 poucos foram aqueles que tinham as mãos limpas. Uns por fecharem os olhos, outros por muita coisa diferente.

É certo que não se deve esquecer... mas... estar a beber palavra a palavra com intuito de encontrar duplos sentidos e fazer colagens aos pensamentos e deduções pessoais... começa sinceramente a chatear.

segunda-feira, junho 05, 2006 2:16:00 da tarde  
Blogger BRUNO said...

"quando Deus não me ajudar, eu estarei cá para ajudar Deus"

Sei alguma coisa sobre essa época, mas também não tenho vontade em rivalizar conhecimento com ninguêm.

mas o que posso adiantar, é que entre 29 e 52 poucos foram aqueles que tinham as mãos limpas. Uns por fecharem os olhos, outros por muita coisa diferente.

É certo que não se deve esquecer... mas... estar a beber palavra a palavra com intuito de encontrar duplos sentidos e fazer colagens aos pensamentos e deduções pessoais... começa sinceramente a chatear.

segunda-feira, junho 05, 2006 2:16:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Looks nice! Awesome content. Good job guys.
»

sábado, julho 22, 2006 1:15:00 da tarde  

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