domingo, maio 21, 2006

Baleias















Grandes tribos flutuantes
migrações
icebergs de carne e osso
ilhas dolentes

Soa na noite triste
das profundidades
a sua elegia e despedida
porque o mar
foi despovoado de baleias

Sobreviventes de outro fim do mundo
adoptaram a forma dos peixes
sem chegarem a ser peixes

Precisam de sair para respirar
cobertas de algas milenárias
e então se encarniça com elas a crueldade
do arpão exclusivo

E todo o mar se torna
um mar de sangue
enquanto as levam para o esquartejamento
para fazê-las bâton
sabão azeite
alimento de cães

Os seus olhos são as pálpebras da aurora
das suas narinas sai fumo
Como de uma panela ou caldeira a ferver
No seu cachaço está a força
e na fronte se espalha o desalento*


José Emilio Pacheco

*Job 4.

Whales face a new threat
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