Tela viva
O terrorista – ele observa
A bomba vai explodir no bar às treze e vinte.
Agora são treze e dezasseis.
Alguns terão ainda tempo para entrar,
outros para sair.
O terrorista atravessa a rua.
A distância salvaguarda-o do perigo
e pode observa tudo como no cinema:
Uma mulher de casaco amarelo – ela entra.
Um homem de óculos escuros – ele sai.
Jovens de jeans – eles conversam.
Treze horas, dezassete minutos e quatro segundos.
O mais baixo – está com sorte, sobe para uma scooter,
mas o mais alto – ele entra.
Treze horas, dezassete minutos e quarenta segundos.
Passa uma rapariga com uma fita verde no cabelo.
De repente, fica oculta por um autocarro.
Treze e dezoito.
A rapariga desapareceu.
Terá sido estúpida a ponto de entrar, ou não?
Logo se vê, quando retirarem os corpos.
Treze e dezanove.
Parece que mais ninguém quer entrar.
Em contrapartida sai um careca obeso.
Remexe os bolsos como se procurasse algo
e quando faltam dez segundos para as treze e vinte -
ele volta a entrar por se ter esquecido de umas reles luvas.
São treze e vinte.
O tempo, como demora a passar.
Está na hora.
Ainda não.
Sim, agora.
A bomba – ela explode.
Wislawa Szymborska
in «Wielka liezba»
3 Comments:
Então agora andamos a brincar às chaves mestras?
Porque a vida é um frágil fio que se corta com facilidade...um dia...num momento.
Beijos
Pitucha:
De facto, para morrer, basta estar vivo.
De qualquer forma acho que os Israelitas (e os palestinianos) têm uma noção muito mais aguda do risco de morrer do que nós. Eles têm medo de sair à noite ou de andar de autocarro.
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