terça-feira, abril 25, 2006

a política e as revoluções

(O Francisco Bairrão num post que eu considero interessantíssimo e que já reproduzi aqui já discutiu estas questões, acho que no entanto vale a pena continuar a discussão à luz do caso inglês, ainda que eu seja apenas um leigo. Acrescentaria mais um leigo que não é propriamente "desinteressado".)

Diz-nos Karl Popper que o que causa as revoluções não é a busca de qualquer espécie de justiça, mas sim os conflitos de interesses e isto (ainda segundo Karl Popper) é já razão suficiente para as evitar. Essa é também uma boa razão para pensar duas vezes antes de mudar a lei. Antes que me caiam em cima, vale a pena relembrar que a revolução de Abril de 74 surgiu na sequência de um livro escrito pelo General Spínola defendendo o fim da Guerra Colonial: "Portugal e o Futuro".

É isso que é interessante no post do Francisco Bairrão, a defesa do jurista prudente.

Nessa matéria o caso inglês é paradigmático. Eles têm aquilo a que eles chamam uma constituição não escrita, e a sua muito amada magna carta.

É claro que a constituição deles está escrita, o que eles não têm é a nossa dualidade entre a constituição (texto fundamental) e a lei ordinária, com disposições muito específicas para a alteração da primeira. O que eles têm é a amada magna carta deles.

O que eles não contam às criancinhas deles é que a Magna Carta não surgiu à segunda feira de manhã porque o Rei João (esse fraco fã de Ricardo Coração de Leão e do Rei Artur) acordou com vontade de abdicar dos seus poderes (qual cavaleiro de pau), a Magna Carta surgiu porque os fidalgos ingleses (e só os fidalgos) quiseram criar um instrumento legal para mediar conflitos com o rei em sede de tribunal.

(Vale a pena ler o artigo sobre a Magna Carta na wikipedia)
(Eu não sou propriamente um especialista na matéria, se estiver a meter água o Francisco que me corrija)

[Vejam também comentário do Gabriel na sequência do qual este post foi ligeiramente editado]
Partilhar

5 Comments:

Blogger Gabriel Silva said...

Só uma correcção: «Portugal e o Futuro» não foi escrito por um «ex-ministro de Salazar», mas pelo General António de Spínola, ao tempo, Vice-Chefe do Estado Maior das Forças Armadas e ex-comandante operacional na Guiné.
O chefe do EMGFA era Costa Gomes, esse sim, ex-secretário de estado de Salazar.
O livro foi publicado a 22 de Fevereiro de 1974, defendendo o fim da Guerra Colonial e a liberalização do regime.

Na sequência da publicação do livro, Marcelo (primeiro-ministro) chamou os dois e disse-lhes que se pensavam aquilo, então que as FA tomassem o poder. Eles, infelizmente, recusaram. E foram demitidos.

terça-feira, abril 25, 2006 3:34:00 da tarde  
Blogger rui said...

a tão glosada reticência de Popper perante as revoluções tem uma origem. Uma experiência traumática que teve maiores repercussões ainda pela cobardia pessoal do famoso filósofo.
E claro que a tal tese dos interesses, é marxismo puro. A justiça, como se sabe, é um conceito relativo.

quinta-feira, abril 27, 2006 12:53:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Rui:

"a tão glosada reticência de Popper perante as revoluções tem uma origem. Uma experiência traumática que teve maiores repercussões ainda pela cobardia pessoal do famoso filósofo."

Explique lá isso da "cobardia pessoal" ...

quinta-feira, abril 27, 2006 1:20:00 da tarde  
Blogger rui said...

a cobardia pessoal é descrita claramente ( com pílula dourada à maneira do mestre, (v.d. as descrições do próprio sobre o famoso episódio do atiçador de Wittgenstein...))na "miséria do Historicismo".
O Popper participou na juventude numa manif esquerdista que foi violentamente reprimida pela polícia, e apanhou um cagaço de tal forma intenso que passou o resto da vida a matutar sobre a "inconveniência das revoluções".

quinta-feira, abril 27, 2006 2:59:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Rui:

O meu único receio é que o problema fosse a ambivalência dele relativamente à componente militar da Segunda Grande Guerra. De resto o próprio Karl Popper tem textos seus de onde se depreende que ele terá alguns problemas de consciência por não ter "pegado em armas" durante essa mesma guerra.

Um abraço

quinta-feira, abril 27, 2006 3:39:00 da tarde  

Enviar um comentário

Voltar à Página Inicial