O luto na infância
O tema levantado pelo post da MissM lá em baixo é um tema que me é grato. Aprender a fazer um luto é sem dúvida uma das tarefas essenciais do crescimento. Deixo aqui uma bela história contada num estilo inconfundível e para mim sempre apaixonante da Susana Pinheiro.
Em Novembro, faz dois anos que faleceu um dos meus tios mais queridos .
À data da sua morte, o pequeno Diogo, seu neto, deveria ter cerca de um ano e meio. O certo é que ainda hoje, reconhece o avô em fotografias, surpreendendo-nos a todos. Ao vê-las, pergunta-nos sempre pelo avô, como se este estivesse apenas ausente. A sua noção de tempo difere da nossa por motivos óbvios. Tudo é medido à razão do seu pequeno tamanho.
Na semana passada, apesar da fotografia ser bastante antiga, uma vez mais reconheceu o avô, e uma vez mais perguntou onde estava. Nestas alturas a tendência das pessoas é responder que está no céu. Foi o que fez a bisavó Laura. (...)
Quando os miúdos são de pacato feitio, ficam-se mudos e quedos com semelhante explicação. Mas se forem espevitados (como é o caso), a resposta, que para uns é suficiente, mesmo que não a tenham entendido na totalidade e as dúvidas persistam; torna-se motivo para um longo e não raras vezes, complicado questionário. Não é fácil explicar um conceito que nos é tão doloroso, a uma criança de três/quatro anos.
Passado algum tempo, não satisfeito com a situação, até porque é notório que tem saudades do avô, o Diogo resolveu apresentar à bisavó uma solução para a questão do avô estar "lá em cima" e dele não o poder ver - "Vó Laura, se a gente atirar uma corda, o vô Licas podia descer!"
O ar sério como que foi apresentada a solução, deixou sem palavras quem o rodeava. O que dizer a uma criança numa situação destas, sem ter de lhe apresentar a realidade amarga e dolorosa de se perder quem mais se ama...
Em Novembro, faz dois anos que faleceu um dos meus tios mais queridos .
À data da sua morte, o pequeno Diogo, seu neto, deveria ter cerca de um ano e meio. O certo é que ainda hoje, reconhece o avô em fotografias, surpreendendo-nos a todos. Ao vê-las, pergunta-nos sempre pelo avô, como se este estivesse apenas ausente. A sua noção de tempo difere da nossa por motivos óbvios. Tudo é medido à razão do seu pequeno tamanho.
Na semana passada, apesar da fotografia ser bastante antiga, uma vez mais reconheceu o avô, e uma vez mais perguntou onde estava. Nestas alturas a tendência das pessoas é responder que está no céu. Foi o que fez a bisavó Laura. (...)
Quando os miúdos são de pacato feitio, ficam-se mudos e quedos com semelhante explicação. Mas se forem espevitados (como é o caso), a resposta, que para uns é suficiente, mesmo que não a tenham entendido na totalidade e as dúvidas persistam; torna-se motivo para um longo e não raras vezes, complicado questionário. Não é fácil explicar um conceito que nos é tão doloroso, a uma criança de três/quatro anos.
Passado algum tempo, não satisfeito com a situação, até porque é notório que tem saudades do avô, o Diogo resolveu apresentar à bisavó uma solução para a questão do avô estar "lá em cima" e dele não o poder ver - "Vó Laura, se a gente atirar uma corda, o vô Licas podia descer!"
O ar sério como que foi apresentada a solução, deixou sem palavras quem o rodeava. O que dizer a uma criança numa situação destas, sem ter de lhe apresentar a realidade amarga e dolorosa de se perder quem mais se ama...
8 Comments:
Concordo, aprender a fazer o luto faz parte do crescimento e é fundamental para que possam crescer saudavemente. Mas nem sempre é fácil consegui-lo, principalmente quando esse luto envolve pessoas muito próximas, como pai ou mãe de crianças pequenas. Se a criança é muito pequena, tudo se torna mais fácil por se ir fazendo à medida que ela toma consciência dela própria, mas se a criança tem 5/6/7/8.. anos, as coisas complicam-se significativamente.
A
Estas coisas, são tão complicadas, que mesmo os adultos às vezes evitam enfrentar as emoções que a morte traz consigo.
Eu tenho andado ultimamente a lidar com uma situação muito complicada a esse nível, e muitas vezes os problemas relacionados com o luto só me aparecem nos sonhos (ou nos pesadelos).
Boa Noite
P.S.: E já agora esse A é uma trade mark, e eu não excluo a possibilidade de processar este último comentador por impersonation ;)
Não tive experiência pessoal de ter de lidar com a morte sem saber ainda o que isso era, por isso, é-me um bocado difícil de imaginar o que faria nessa situação... Mas, à partida, o verdadeiro esclarecimento da situação parece-me a opção mais correcta - acredito, contudo, que isto seja mais fácil de dizer do que de fazer...
Caro Luís, a "trade mark" (A) que menciona é uma mãe que sabe muito bem do que está a falar, mas não tem coragem de dar a cara, "fazer o quê?" :))
Boa noite
Cara A:
Talvez haja aqui um equivoco (da minha parte), use e abuse do alfabeto, sempre.
Não é facil, nem há formulas mágicas para este tipo de situações, cada caso é um caso.
A primeira vez com que 'choquei' de frente com o conceito de morte, a sério, tinha 19 anos, quando velava a minha prima de 18 anos... Se com essa idade não foi fácil encarar a situação, pior será quando ela nos surge na vida em mais tenras idades.
Mas, independentemente da idade, e da dificuldade em colocar a situação por palvaras, o conceito deve ser apresentado com tanto de verdade como de sensibilidade a uma criança.
Susana:
Para além da nossa conversa de hoje que muito te agradeço, tenho que te responder a isso - no sítio do costume.
Não tens nada a agradecer.
Aguardo então a resposta, no sitio do costume. ;O)
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