segunda-feira, abril 24, 2006

Filosofias


Narana Coissoró, na SIC-Notícias, a propósito suponho que de Bolonha (apanhei a conversa a meio) acha bem que, no ensino Secundário, se estudem não só textos literários, mas também outros tipos de textos, fundamentais no mundo em que vivemos, como os livros de instruções dos telemóveis. Há três anos que o exclusivismo da Literatura nos programas de Português no Secundário acabou. Mas a questão é muito simples: quem consegue compreender uma Ode de Camões não tem dificuldade nenhuma em compreender um horário de comboio ou uma coluna do 24 horas. O contrário é que já não é necessariamente verdade. De resto, os alunos, que não são tão burros como se pensa, percebem bem isso. Por azar meu, fiz estágio precisamente no ano em que entrou em vigor o novo programa de Português do 10º ano. Entre outras coisas, tal programa inclui, com teorização que não vem ao caso, coisas como o abaixo-assinado. Quer dizer: os alunos devem saber interpretar e produzir um abaixo-assinado. Claro que eles, alunos, se riram. Abaixo-assinado? Abaixo-assinado. Mas, no fundo, gostaram. Afinal, é mais fácil tirar boas notas com coisas dessas do que com coisas chatas como a poesia do Século XVI. Pois. Nós percebemos.
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2 Comments:

Blogger André Carvalho said...

No secundário já o pessoal sabe de cor as instruções dos telmóveis e ainda já recorrem à net, desde o ensino básico, para desbloquear os telemóveis e/ou piratear todos os upgrades que conseguirem. O Narana já não está é bom da cabeça.

segunda-feira, abril 24, 2006 10:42:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Não é uma questão de substuição, é uma questão de complementação!

- "quem consegue compreender uma Ode de Camões não tem dificuldade nenhuma em compreender um horário de comboio ou uma coluna do 24 horas"

-- Acredito, mas compreender uma Ode de Camões a partir do nada pode não ser muito simples. E o nada é frequentemente o nível dos nossos alunos. Além disso, o horário do combóio ou a notícia do jornal podem ser mais apelativas, pela sua real actualidade e mais imediata utilidade, facilitando assim um descolar do nada.

-- O livro de instruções do telemóvel, à partida parece uma ideia disparatada. Mas é bem verdade que os alunos muitas vezes não sabem seguir tarefas, interpretar indicações e coisas do género.

André:
Quanto à utilização das tecnologias, não nos podemos esquecer que há no país realidades bem diferentes das nossas. Continua a haver quem nunca tenha ligado um computador

terça-feira, abril 25, 2006 3:45:00 da manhã  

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