Pelo direito à indignação... com os indignados
Confesso que me fascina a facilidade com que a maioria das pessoas acredita em tudo o que vê, ouve ou lê. Fico impressionado com a ligeireza com que automaticamente se deixam convencer de algo, por mais bizarro que seja ou pareça e por mais suspeita que seja a fonte. Calculo que não o façam sempre. E que o fenómeno só aconteça quando os contornos se enquadram nas ideias pré concebidas que essas mesmas pessoas têm sobre o objecto da notícia – ou pseudo-notícia.
Os casos mais flagrantes são os famosos “Hoaxes”. Embustes através da Internet, que vão desde os mais completos sites às corriqueiras “chain-letters” via e-mail. E já nem me refiro àquele tipo de e-mail que nos convida a reenviar a mensagem a não sei quantas pessoas num curto espaço de tempo sob pena de acontecer algo de ruim à nossa vida no dia seguinte . Nem aos esquemas de enriquecimento em pirâmide. Nem aos que pedem ajuda para lidar com um qualquer infortúnio que a vida reservou a alguém que nunca é muito bem identificado nem explica muito bem onde vive. Refiro-me mesmo às pseudo-causas, às subscrições, aos abaixos-assinados em nome de uma treta qualquer que se destina apenas a apanhar o endereço de e-mail dos mais incautos por forma a vender as listas em leilões de “spamers”.
Vem isto a propósito de um mail, intitulado "Pelo direito à indignação", que tenho recebido nos últimos dias de vários contactos da minha lista de endereços. Muito provavelmente, a maior parte de vocês também o recebeu e, possivelmente, também o enviou. A mensagem, que apela à “indignação contra o povo do Irão", apresenta uma sequência de fotos em que se vê um adulto, supostamente daquele país, a meter o braço de uma criança debaixo do pneu de um automóvel, alegadamente, como castigo por o rapaz ter roubado um pão.
A verdade está aqui, aqui e por aqui. E se alguma das cinquenta e tal pessoas – cujos endereços vêm listados no cadastro da mensagem – que leram e reencaminharam o mail, até este chegar a mim, tivessem a sensatez de questionar o conteúdo e se tivessem dado ao trabalho de o confirmar tinham-me poupado cinco minutos de pesquisa na Internet. Cinco minutos… foi o que demorou para desmontar esta “armadilha” que já deve ter apanhado uns milhares de crentes – para não usar o termo mais apropriado.
7 Comments:
De qualquer forma é uma maneira muito civilizada de fazer demonstrações não?
Por cá, quando queremos mostrar destas coisas às pessoas, como a inofensividade de uma roda de um camião, proponho que também o façamos com criancinhas, que exprimem um ar de intensa felicidade ao fazê-lo!
Foste ver os links?... Há uma fotografia, deliberadamente deixada de fora da sequência que correu pelos mails de toda a gente, que mostra a criança no fim da performance. A criança, pelos vistos, não se magou. Não teve um arranhão. Pelo que deve haver um truque qualquer.
E, sinceramente, e na devida proporção do que quer que seja que nos separa da civilização iraniana, também há espectáculos destes por cá. Porque, minha amiga, não vejo qual a diferença entre o que esta criança faz ou é "obrigada" a fazer e o que as crianças dos nossos circos fazem ou são obrigadas a fazer!
Caro Raimundo,
A verdade é… que não sabemos mesmo o que aconteceu. A história que contas e os links que nos dás a conhecer têm mais lógica (é mais humana, mais aceitável) do que a versão que foi veiculada por e-mail, no entanto, ninguém me garante que a fotografia final da série, não é uma foto inicial. Mas o relevante é que não se vê a criança a sorrir em nenhum momento, e é óbvio, que está assustadíssima. Uma parvoíce em qualquer caso, embora prefira a "tua" versão.
Na altura em que apareceu esse email pela primeira vez (há um mês ou coisa assim) vários blogs falaram nisso e encontraram os links com as explicações. Dei-me ao trabalho de ler algumas dezenas de comentários no site que 'explica' a sequência e coloquei essa mesma explicação no meu babyblog. Do que ali se consegue entender, o miúdo ( os pais) foi pago para fazer aquelas fotografias mas a cara de dor e pânico não engana, mesmo que não tenha ficado com o braço esmagado. A questão aqui é que quem encomendou aquilo foi uma agência noticiosa do Irão: com que finalidade? Uma campanha para potenciais ladrões?
E quem garante a veracidade da explicação? É-nos mais confortável, claro, mas pode ser tão falsa como as primeiras fotografias.
Concordo, claro que essas emails chains sejam investigadas antes de fazer o fw, mas já se sabe que a maioria das pessoas nem sequer saberia como o fazer.
Porque me dei conta da razão de alguns dos comentadores que também questionam a veracidade da explicação, achei por bem aprofundar a investigação. Continuo sem uma resposta cabal, mas, certamente, mais perto da verdade.
Então é assim:
1 - O trabalho do fotógrafo Siamak Yari foi publicado no site da agência noticiosa PeykeIran (www.peykeiran.com).
2 - A PeykeIran é, pelo que pude perceber de um forum activista na luta pela liberdade no Irão (http://www.activistchat.com), uma agência independente que tem divulgado as atrocidades cometidas pelo Governo contra a população.
3 - Foi no site da agência (que está escrito em persa) que as fotos foram originalmente publicadas. E segundo o site de "caçadores de mitos" "Snopes.Com", a explicação dada originalmente pela agência - a um outro site (www.littlegreenfootballs.com)seria a de que se tratava de uma espécie de espectáculo de rua. O que, de certa forma, explica o porquê do homem com o microfone na primeira fotografia. A explicação, que só conhecemos pelo "Snopes" (o link ficou aí ontem no post) afirma ainda tratar-se de uma ilusão. E que a cara de sofrimento do menino não passa de encenação para dar mais realismo à coisa.
E isto foi o máximo que consegui descobrir. O Snopes e o Little Green Footballs , ou até a PeykeIran, podem estar a mentir. Mas porque razão o fariam?
Admito, porém, poder estar enganado - ou a ser enganado. Mas, até agora, ainda ninguém me mostrou a fotografia do miúdo com o braço esmagado ou em sofrimento profundo a seguir ao carro lhe ter passado por cima - imagem que seria fundamental, quer para demonstrar a crueldade final do acto pelos que defendem a teoria do mail... quer para servir de exemplo a futuros ladrões de pão, para os que defendem tratar-se de uma campanha não sei de quem para prevenir esse tipo de criminalidade!
Mas, repito, é possível que eu esteja a ser enganado e que isto seja uma conspiração de entidades que aparentam ser sérias para encobrir, nada mais, nada menos, que o atropelamento do braço de um miúdo numa cidadezinha perdida no meio do Irão. Pode ser...
As pessoas acreditam no que querem acreditar. Tal como nas famosas mensagens sobre ucranianos que assaltam carros na rua ou chineses que roubam orgãos a crianças nas lojas, interessa saber a quem é que interessa promover este tipo de ódio xenófobo! Mas nós sabemos bem quem promove estes boatos que, infelizmente, são propagados por pessoas em geral bem intencionadas.
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