sexta-feira, janeiro 20, 2006

Uma mensagem que se esquece - Mário Botas

Nos meus tempos de Faculdade, enquanto vagueava pelo CCB depois de uma daquelas sessões de estudo para as frequências dei por um painel à entrada do centro de exposições que dizia " Mário Botas - retrospectiva ".
Um desenho fazia parte desse painel publicitário que nunca mais saiu da minha cabeça. Um homem engravatado, de aspecto espectral, com 6 patas de caranguejo a sair por de baixo de um laçarote exagerado, que olhava para do alto do seu esguio pescoço, com ar indiferente para um pequeno ser alado que parecia dirigir-se compenetrado para o seu chapéu. O homem apenas esticava o braço, como se de um domador de falcões fosse.
Uma aguarela.
Entrei, e hoje a única coisa de que me arrependo foi de não ter comprado o Book da exposição.

Nasceu em 53 morre em 83. 30 anos de existência, sendo que os ultimos 6 foi de convivência com Leucemia.
É patente nos seus trabalhos a visão de um mundo pelos olhos de que em breve vai deixar de estar nele. Mas a visão não é a de desnorte ou de angústia ou de medo de morte. Pelo menos para mim, o que Mário Botas disse no seu vasto espólio foi que o mundo não é mais que uma caricatura moldável e infinita dentro da cabeça de cada ser humano. O mundo depende da forma como para ele olhamos pois o Mundo somos nós e o sítio onde estamos presente é apenas um globo feito de massa.

Nada mais se ouviu de Mário Botas, e cada vez que comento com alguém ninguem dele ouviu falar e pergunto-me " como pode ser isso? ".

Tão repleto de originalidade, desconstrução visionária, presença de espírito e força anímica que transpira em cada aguarela, em cada esboço, em cada frase... e ainda assim "quem é Mário Botas?", "Bota ou Botas?", " Não sei, talvez se vir um quadro sou capaz de me lembrar!", " não, ainda assim não conheço... mas é muito bom!!".

Mais triste fiquei quando no google coloquei seu nome. Escassas as páginas e referências, poucas demais para alguem que fez uma manifestação profunda e demasiado silênciosa. Talvez era assim que Botas queria, pois do que me lembro das pessoas que andavam naquele dia do CCB a escutar a alma de Mário Botas, era que calculavam o peso das passadas, o volume da voz, o poder das expressões... pois tudo o que nas paredes e nas estantes estava já falava o suficientemente.

Deixo no título um apelo para a memória desse artista que se esqueceu. Como muitos.
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9 Comments:

Blogger Sílvia said...

Eu também não conheço, Bruno. Ainda bem que tu o recordas aqui. Prometo que agora vou procurar saber mais sobre esse artista em memória de quem tu escreves algo tão bonito.

sexta-feira, janeiro 20, 2006 3:58:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A partir de agora, quando fizeres uma busca no Google, já vais encontrar mais um texto sobre o Mário Botas. Este teu post.

sexta-feira, janeiro 20, 2006 4:23:00 da tarde  
Blogger Stranger said...

oi! andava a pesquisar "educação multimédia" e vim aki parar..to na licenciatura de Educação e Comunicação Multimédia na ESE Santarém..quem sabe n será o proximo curso :)

Se calhar o Mario só queria que algumas pessoas como tu o conhecessem.Para quê ser conhecido por muita gente se metade não sente as obras como o artista quer?!

http://taskinhadasletras.blogspot.com

dsclpa a invasão...e o "tu" :)

sexta-feira, janeiro 20, 2006 6:11:00 da tarde  
Blogger BRUNO said...

não é invasão paulo, és sempre bem vindo e penso que falo em nome de todo o pessoal do geração rasca.

quanto ao tu... é pá, deixa-te disso!

volta sempre!

sexta-feira, janeiro 20, 2006 6:47:00 da tarde  
Blogger sabine said...

Paulo:
Sou de Comunicação Social e Educação Multimedia na ESE de Leiria. És sempre bem-vindo! :)

sexta-feira, janeiro 20, 2006 9:21:00 da tarde  
Blogger sabine said...

Bruno:
Conheço Mário Botas: ele está ligado à Nazaré (uma praia perto de Leiria).

sexta-feira, janeiro 20, 2006 9:22:00 da tarde  
Blogger BRUNOFERREIRA said...

a obra dele é muito interessante no panorama português...

o andré que admira o surrealismo deve concerteza gostar de Mario Botas

sábado, janeiro 21, 2006 3:16:00 da tarde  
Blogger RAF said...

Caro Bruno,
A obra de Mário Botas não está assim tão esquecida como isso. Por exemplo, o BPI, ainda no ano passado, em 2004, ofereceu aos seus melhores clientes e seus amigos, no habitual «livro de natal», uma edição especial sobre este artista.
A edição corrente está à venda, entre outros locais, na FNAC.
Um abraço,
Rodrigo Adão da Fonseca

sábado, janeiro 21, 2006 5:49:00 da tarde  
Blogger Stranger said...

com esta recepção...só tenho msm é q cá voltar..
Obrigado colegas "multimédicos" e outros "rascos". Sou da geração-rasca de 1982 :)

Fiquei a conhecer Mário Botas

domingo, janeiro 22, 2006 11:55:00 da manhã  

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