sexta-feira, janeiro 13, 2006

Ser intelectual

Ultimamente, tenho andado a pensar na forma de me transformar, rapidamente, num intelectual. Porquê? Porque gostava e “prontos”! Acho que deve ser uma profissão gira e coiso…

Como o mercado de trabalho está saturado de pessoal com formação nas áreas das ciências sociais e humanas, a carreira de intelectual pode ser uma excelente aposta profissional... e nem sequer é um trabalho.

Se existisse uma licenciatura em Ciências Intelectuais, a coisa estava feita. Bastava inscrevermo-nos numa Universidade privada qualquer e pagar as propinas. Mas felizmente que não é assim. Tornava-se muito fácil e depois havia excesso de intelectuais, logo, desemprego. Tenho alguma dificuldade em imaginar um intelectual no desemprego. Nem deve notar a diferença.

Mesmo assim não nos podemos queixar muito. A coisa agora está bastante mais facilitada. Com a queda do muro de Berlim, já não é preciso ler aqueles enfadonhos livros do século XIX que um tal de Marx se lembrou de escrever a solo, e outro com um amigo. Era uma seca ter de saber, na ponta da língua, tudo sobre o materialismo histórico e dialético, o estruturalismo, a esquerda hegeliana, e mais uma série de tretas sem interesse nenhum. É por estas coisas que não há ninguém que me consiga convencer, por mais que tente, que os livros dele são bons. Se fossem realmente bons, já tinham sido adaptados para o Cinema. Hello!? Isto é completamente óbvio! Eu até posso ser distraído, mas de parvo não tenho nada!!

Outra coisa porreira é que também já não é preciso usar barba, sandálias, malinha a tiracolo, camisa de flanela aos quadradinhos, nem uma boina para se ser intelectual. Agora os intelectuais já podem usar usar underwear Nikos, Calvin Klein ou Neal's Yard. Fatos, camisas e gravatas da Dior, Gucci, Versace, Givenchy, Hugo Boss, ou Rosa & Teixeira. E até sapatos Dolce & Gabbana e Raffaello. Ulálá! Très chic!

Mas, o melhor de tudo, é o tempo que um gajo intelectual tem livre. Pode ler, escrever, beber copos, ouvir música, ir a concertos, ao cinema, beber copos, exposições, conferências, palestras, comer, beber copos, viajar, ginásio, beber copos, teatro, e ir namoriscando aqui, ali e acolá. Sem horários para deitar, levantar e trabalhar. Trabalhar? “What? Agora não posso! Não estou inspirado!”. Eh eh eh, rica vidinha.

Já me estive a informar, e parece que nem tudo são rosas na profissão de intelectual. Às vezes os intelectuais têm de se levantar ao meio-dia para darem uma aula na faculdade às duas. Outras vezes têm de ir dar uma palestra, ir até à televisão, à rádio, ou ao jornal, etc. Uma completa maçada.

Sinceramente, não sei quanto é que ganha um intelectual, mas também não me interessa. Para fazer aquilo que eles fazem, desconfio bem que não se deve receber nada. Só espero que não seja preciso pagar. ;)
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11 Comments:

Blogger Dinada said...

Eu sou uma loira quase intelectual. O 'quase' deve-se, unicamente, a uma escolha. Prefiro rir. Acho que os intelectuais riem-se pouco, muito menos deles próprios. Dom meu, esse, de saber rir dos meus disparates :D

sexta-feira, janeiro 13, 2006 6:41:00 da tarde  
Blogger cãorafeiro said...

Ultimamente, tenho andado a pensar como é que me posso transformar num intelectual

que tal nascer de novo?

não existe a carreira de intelectual, e ser intelectual não é uma opção, é uma maneira de ser, que aliás aarreta para muitos um enorme peso, o peso de ver mais claramente que os outros, e, quando a formação moral está à altura do intelecto, acarreta também um enorme sofrimento.

não é por acaso que a maoiria dos dissidentes foram e são intelectuais.

sexta-feira, janeiro 13, 2006 7:05:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O cão rafeiro hoje está com um excelente sentido de humor. Ulálá! ;)

sexta-feira, janeiro 13, 2006 7:08:00 da tarde  
Blogger sabine said...

Cá por mim, vou-me tornar na membra mais nova da esquerda caviar (LOL LOL)

sexta-feira, janeiro 13, 2006 7:14:00 da tarde  
Blogger André Carvalho said...

Olá Dinada,

Desculpa não ter comentado o teu post primeiro, mas estava a ser "mordido" pelo cão rafeiro. Que costuma ser muito simpático mas hoje está mal disposto.

Tocaste num ponto fulcral... não me parece possível ser intelectual e ter sentido de humor. Vou ter de escolher outra carreira. ;)

sexta-feira, janeiro 13, 2006 8:30:00 da tarde  
Blogger André Carvalho said...

Sabine,

Essa da esquerda caviar é uma boa escolha... vou pensar nisso também. ;)

sexta-feira, janeiro 13, 2006 8:31:00 da tarde  
Blogger Carlota said...

Já é tarde e estou p'ró estoirada, por isso deixa-me só dizer-te que este teu post tem passagens delirantes.
Podes não conseguir seguir a carreira de intelectual, mas hás-de ir longe pela criatividade e sentido de humor. Acho eu.

sexta-feira, janeiro 13, 2006 10:58:00 da tarde  
Blogger André Carvalho said...

Cara Carlota,

Só está a dizer isso porque estás p'ró estoirada. Se estivesse fresquinha... percebia logo que eu vou conseguir ser um intelectual. ;)

sexta-feira, janeiro 13, 2006 11:29:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Eu acho que já és um intelectual. ;)

sábado, janeiro 14, 2006 12:00:00 da manhã  
Blogger Sílvia said...

Este homem mata-me! Meu caro André, acho que te deviam recrutar para o Inimigo Público. Continua com esse humor inteligente. ;o)

sábado, janeiro 14, 2006 2:24:00 da manhã  
Blogger Rita Rabiga said...

Genial!
E ainda por cima fez-me rir!
Mas o meu riso não quer dizer que eu não acredite na tua capacidade para ser intelectual. Nada disso!
;)

segunda-feira, janeiro 16, 2006 5:54:00 da tarde  

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