domingo, janeiro 22, 2006

Memória Futura

"Um dos méritos de uma pessoa culta é o de reconhecer que as coisas não acabam onde acaba a sua “cultura” e que a sua “cultura” não é um critério absoluto. A ideia de que a vida é uma sabatina regular exibida em torno de nomes e de estantes é um factor de empobrecimento da própria vida cultural. Isto também explica o predomínio absoluto da “cultura literária” num país sem “cultura científica” e sem disponibilidade para aceitar a diversidade, as dificuldades e a necessidade de esforço"
Francisco José Viegas

Estas frases foram ditas num contexto específico (a defesa de um candidato presidencial), mas têm valor para além dele.
De facto, o primeiro dever de uma pessoa culta é saber onde acaba a sua cultura. Ninguém sabe tudo: o mundo abre-se à nossa frente mas nós não o conseguimos apreender todo. Há sempre algo que não sabemos e alguém que sabe mais do que nós.
Aprendemos nos livros que lemos mas também nas conversas que temos e nas viagens que fazemos. Existe mundo para além das estantes, mais ou menos bafientas, de uma biblioteca.
Francisco José Viegas também se refere ao predomínio do prestígio da cultura literária sobre a cultura científica. Esse predomínio prolonga, de facto, uma ilusão. É que podemos pensar a partir de múltiplas fontes, não precisamos de recorrer só aos romances, à música e ao cinema. As ciências puras (como a matemática, a física e a química) têm pouco prestígio e poucas ofertas de emprego em Portugal o que é mau. Precisamos muito delas para que se comece a estar na linha da frente da criação científica.
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