Lady Mónica na cidade do castelo
Periodicamente, a livraria Arquivo organiza um conjunto de eventos culturais de relevância para o burgo (Leiria). A assistir a esses eventos encontramos sempre as mesmas caras - as luminárias iluminadas cá do sítio. Desta vez - esta quinta-feira - a convidada foi Maria Filomena Mónica para apresentar o seu Bilhete de Identidade.
Primeiro falou Orlando Cardoso, que apresentou o livro num tom condescendente mas também crítico. Depois, foi a vez da autora falar.
Lady Mónica, com a sua pose aristocrática, descreveu o livro como um «exercício de estilo com efeito catártico». Uma obra que se caracteriza ao mesmo tempo pela descrição e pela exposição da vida pessoal e intelectual, de forma intercalada. Também descreveu as reacções dos seus leitores: uma recepção positiva (de quase identificação) por parte das mulheres e um comportamento machista, envergonhado (e quase infantil) por parte dos homens perante as suas confissões. Lembrou, a propósito, que muitos seus colegas, professores universitários da mesma geração, lhe costumam dizer "tu és um homenzinho". Esta frase demonstra admiração pelo seu percurso académico mas também um machismo eterno subjacente.
Maria Filomena Mónica advertiu que se as mulheres se puserem a lutar constantemente contra a descriminação (e pelo feminismo) isso acaba por ser paralisante: não deixa espaço para a acção, que é o essencial. Compartilho com ela esse ponto de vista.
Durante a apresentação não faltou o auto-elogio. No caso a propósito da ascensão social rápida da mãe: «a sorte da minha mãe é que somos bonitas». Assim, as manas Mónica (Maria e Isabel) foram facilmente aceites na sociedade da linha e frequentar essas festas na juventude.
Lady Mónica considera-se «a pessoa mais atípica do mundo» o que é um exagero: existem mais pessoas com histórias parecidas. No entanto, durante os lançamentos desta autobiografia pelo país fora tem encontrado qualquer coisa de comum com as mulheres com que convive: a «condição feminina». Enquanto isso, os homens lêem este livro mais por voyeirismo.
Respondendo a uma pergunta feita por uma mulher presente no local, a autora reconheceu que mantém uma relação subjectiva com o Reino Unido: quando está em Oxford sente-se segura e tem mais tempo para reflectir. Acaba por se sentir como se estivesse num convento. É mais tolerante com os ingleses do que é com os portugueses porque ali não é a sua terra. Também reconheceu que sem criadas nunca conseguiria chegar onde chegou a nível académico. Considerou que hoje há uma imposição ideológica de ter os pais sempre presentes, o que torna as crianças o centro do mundo doméstico. As crianças devem ter espaço para estarem com adultos que não sejam os pais para que aprendam melhor o que é o respeito pelos mais velhos. Lady Mónica acabou recentemente o seu trabalho no Dicionário Biográfico dos Parlamentares e jubilou-se como professora. Por isso, agora pensa em férias e em sair do país.
Depois, seguiu-se o momento do sorriso pepsodent da noite: o dono da livraria perguntou a Maria Filomena Mónica o que achava de Leiria agora, com o castelo iluminado. Obviamente, ela disse que estava lindo.
A propósito da pergunta de um homem, que não encontrou nenhum grande amor relatado no Bilhete de Identidade, Maria Filomena Mónica lembrou que essa história do "homem da minha vida" é uma ideia romântica, do século XIX: Stendhal e Balzac podiam falar disso quando as mulheres tinham uma vida muito curta. Hoje a esperança de vida feminina é maior, portanto não existe apenas um homem na vida das mulheres. Existem vários.
Primeiro falou Orlando Cardoso, que apresentou o livro num tom condescendente mas também crítico. Depois, foi a vez da autora falar.
Lady Mónica, com a sua pose aristocrática, descreveu o livro como um «exercício de estilo com efeito catártico». Uma obra que se caracteriza ao mesmo tempo pela descrição e pela exposição da vida pessoal e intelectual, de forma intercalada. Também descreveu as reacções dos seus leitores: uma recepção positiva (de quase identificação) por parte das mulheres e um comportamento machista, envergonhado (e quase infantil) por parte dos homens perante as suas confissões. Lembrou, a propósito, que muitos seus colegas, professores universitários da mesma geração, lhe costumam dizer "tu és um homenzinho". Esta frase demonstra admiração pelo seu percurso académico mas também um machismo eterno subjacente.
Maria Filomena Mónica advertiu que se as mulheres se puserem a lutar constantemente contra a descriminação (e pelo feminismo) isso acaba por ser paralisante: não deixa espaço para a acção, que é o essencial. Compartilho com ela esse ponto de vista.
Durante a apresentação não faltou o auto-elogio. No caso a propósito da ascensão social rápida da mãe: «a sorte da minha mãe é que somos bonitas». Assim, as manas Mónica (Maria e Isabel) foram facilmente aceites na sociedade da linha e frequentar essas festas na juventude.
Lady Mónica considera-se «a pessoa mais atípica do mundo» o que é um exagero: existem mais pessoas com histórias parecidas. No entanto, durante os lançamentos desta autobiografia pelo país fora tem encontrado qualquer coisa de comum com as mulheres com que convive: a «condição feminina». Enquanto isso, os homens lêem este livro mais por voyeirismo.
Respondendo a uma pergunta feita por uma mulher presente no local, a autora reconheceu que mantém uma relação subjectiva com o Reino Unido: quando está em Oxford sente-se segura e tem mais tempo para reflectir. Acaba por se sentir como se estivesse num convento. É mais tolerante com os ingleses do que é com os portugueses porque ali não é a sua terra. Também reconheceu que sem criadas nunca conseguiria chegar onde chegou a nível académico. Considerou que hoje há uma imposição ideológica de ter os pais sempre presentes, o que torna as crianças o centro do mundo doméstico. As crianças devem ter espaço para estarem com adultos que não sejam os pais para que aprendam melhor o que é o respeito pelos mais velhos. Lady Mónica acabou recentemente o seu trabalho no Dicionário Biográfico dos Parlamentares e jubilou-se como professora. Por isso, agora pensa em férias e em sair do país.
Depois, seguiu-se o momento do sorriso pepsodent da noite: o dono da livraria perguntou a Maria Filomena Mónica o que achava de Leiria agora, com o castelo iluminado. Obviamente, ela disse que estava lindo.
A propósito da pergunta de um homem, que não encontrou nenhum grande amor relatado no Bilhete de Identidade, Maria Filomena Mónica lembrou que essa história do "homem da minha vida" é uma ideia romântica, do século XIX: Stendhal e Balzac podiam falar disso quando as mulheres tinham uma vida muito curta. Hoje a esperança de vida feminina é maior, portanto não existe apenas um homem na vida das mulheres. Existem vários.
NOTA 1: Este post foi primeiramente reproduzido no Insustentável Leveza.
NOTA 2: Tenho uma relação amor-ódio com Leiria e os leirienses. Este post deverá ser lido a partir desse contexto local.
2 Comments:
A propósito do que MFM disse;
É uma pena que o machismo se concretize na desilusão quanto à autora. A que propósito terei necessidade, eu ou qualquer outro/a, de saber ao pormenor a parte íntima das “vergonhas” de alguém? Ainda por cima, de uma pessoa com tanto além disso para mostar e com farpas muito mais engraçadas para poder continuar a mandar para as livrarias.
Depois, o que contraria a tese de "voyeur" do homem, aquele "snobismo" nada envergonhado camuflado em bondades, no mínimo, contraditórias, tornou-se para mim tão irritante que não pude ler a versão alargadíssima da revista “!Hola!” (não sei pôr o primeiro ponto de exclamação ao contrário) sem deixar uma quantidade razoável de páginas, até ao dia de hoje, para quando me apetecer voltar a tocar as raias da mediocridade, sempre na esperança de encontrar, para além de uma escrita intocável, uma referência que não seja cusquice nem que meta a cusquice na tal “descrição e exposição da vida intlectual”.
Eu gostei de ler o Bilhete de Identidade.
É um livro que fazia falta. Fazem falta mais confissões e histórias de mulheres. E sim, é importante que ela tenha tido coragem de falar dos seus casos amorosos. Acho que fez bem.
Maria Filomena Mónica tem coisas que eu não gosto. Mas este livro é para mim uma revelação positiva.
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