A Hora da Literatura. Efeméride
A 17 de Janeiro de 1995, morreu Miguel Torga. Muito para além de ser um busto que se beija em tempo de eleições, Torga foi um bom poeta, um grande dramaturgo e, acima de tudo, um extraordinário prosador - e Portugal, ao contrário do que por vezes se diz, não é só um país de poesia. O seu "Diário", em 16 volumes, é das melhores coisas que em Língua Portuguesa já se escreveram.
«O dr. Marinho cantava. O Roseira, também poeta, tocava guitarra. (…) Queriamos ser a autenticidade dum Portugal local, que desejávamos tornar universal. (…) Bons camaradas quase todos, tinham, contudo, os defeitos das próprias virtudes. Intelectualizados da cabeça aos pés, mal tocavam a realidade. Eram platónicos no amor, teóricos no desporto, metafísicos no convívio. A convicção de serem únicos distanciava-os do vulgo, tornando-os incapazes dum contacto permanente com as forças rasteiras da natureza.
- Bem , adeus.
- Onde vais?
- Às putas.
Cansado de tanta abstracção, reagia assim. A arte não conseguia arrefecer-me o sangue, debilitar as forças instintivas.»
- Bem , adeus.
- Onde vais?
- Às putas.
Cansado de tanta abstracção, reagia assim. A arte não conseguia arrefecer-me o sangue, debilitar as forças instintivas.»
Miguel Torga, A Criação do Mundo
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