quinta-feira, janeiro 19, 2006

Divina comédia

Odeio anedotas. Mas quando alguém, que não me conhece, faz questão de me contar uma, por uma questão de mera cortesia, rio-me no final. Contudo, a intensidade do meu riso não varia com a maior ou menor graça que eu possa achar à “piada” [porque raramente acho], mas com a exuberância do riso das outras pessoas que a estão a ouvir. Para não ficar mal visto, tento demonstrar o mesmo entusiasmo que os outros mostram. Nem mais, nem menos. Quando acontece ser eu a única pessoa presente, pelo ridículo da [minha] situação, costumava desatar-me a rir que nem um desalmado no final da anedota. Era de tal forma despropositada a minha reacção, que a pessoa que estava a contar a anedota, ou se começava a rir desalmadamente, como eu, ou passava a considerar-me um verdadeiro atrasado mental. Ultimamente, arranjei um truque. Dependendo da maior ou menor "cerimónia", esboço um sorriso mais ou menos rasgado e digo: “Eheh. Está boa! Está boa!”. Quando noto que não fui muito convincente, volto a insistir com um, “Está boa! Eheheheh. Está mesmo muito boa! Ehehehe”. Em alguns casos é necessário, simultaneamente, agarrar, ao de leve no braço do contador da anedota. Que é como quem diz, “Ó pá… ahahah. Pára pá! Não contes mais senão ainda morro a rir.” Até agora… parece que tem resultado. Pelo menos, deixei de fazer figuras tristes.

Para além de não gostar que me contem anedotas, também não gosto de ver comédias. Apesar de consumir filmes quase compulsivamente, sou incapaz de pagar um bilhete de cinema ou levantar um DVD para ver uma comédia. Enerva-me ver os outros a rir enquanto eu fico, invariavelmente, a olhar [com um ar sério] em meu redor e a questionar-me se não terei algum problema grave do foro psíquico. Para me poupar a qualquer dúvida acerca da minha própria sanidade mental, evito ver comédias.

Mas não pensem que sou um gajo sorumbático que nunca se ri. Bem pelo contrário. Farto-me de rir, por vezes, até à exaustão. Só que me rio de coisas bastante mais simples. Por exemplo, não consigo deixar de esboçar um sorriso quando observo na TV aquele andar “esquisito” do Sócrates, ou quando vejo o Cavaco, envergonhadamente, a mastigar qualquer coisinha à frente das câmaras. Rio-me também das “gaffes” do Soares e das entrevistas do Santana Lopes. E chego mesmo a chorar a rir com a “ética republicana” do Pina Mora, ou com os discursos do Jorge Sampaio e do Jorge Coelho. Mas também me rio imenso com outras coisas simples que ocorrem na minha vida quotidiana. Rio-me imenso de mim próprio, e das pessoas que privam comigo. Às vezes rio-me tanto que até dói.

Isto tudo, só para dizer, que se há coisas que me dão prazer ver e que me fazem rir muito, são as séries, «O Sexo e a Cidade», e as «Donas de Casa Desesperadas». Esta última foi, esta semana, galardoada [muito justamente] com um Globo de Ouro.


Desperate Housewives (2004), "Locked Out Of The House"
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3 Comments:

Blogger BRUNO said...

E monty python?
não quero acreditar que não lhes aches piada!

Em relação a estas duas ultimas, são sem dúvida muito boas.

Talvez o problema seja similar ao meu... irrita-me ouvir as séries para rir que têm o formato sit-com com aqueles risos gravados de gente que já morreu nas punch lines.

uuhhhh... arrepio-me só de pensar nisso!

quinta-feira, janeiro 19, 2006 1:54:00 da tarde  
Blogger Rita Rabiga said...

Engraçado um homem a dizer bem destas duas séries consideradas "femininas" ;)
Os meus amigos homens costumam dizer "não percebo porque é que esta série se chama O Sexo e a Cidade. Não tem cenas de sexo..."
:))))))))))))))))))))))))))))
É reconfortante saber que nem todos os homens pensam assim.

quinta-feira, janeiro 19, 2006 6:27:00 da tarde  
Blogger sabine said...

Os teus textos são o motor deste blogue. Este está muito bem apanhado!

quinta-feira, janeiro 19, 2006 7:26:00 da tarde  

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