sábado, dezembro 03, 2005

Porque voto Cavaco Silva

Faz amanhã 25 anos que morreu Francisco Sá Carneiro, e para mim, esta não é uma data qualquer. Embora na época eu ainda fosse bastante jovem, senti muitíssimo a morte de Sá Carneiro. Muitos poderão alegar que os sentimentos são muitas vezes ampliados na adolescência. Tenho a certeza que sim. Sou uma pessoa muitíssimo positiva, e pouco dado a lamechices ou a revanchismos, e embora não goste de recordar maus momentos, por vezes tenho necessidade de o fazer. Há coisas que não se devem esquecer.

Foi um choque tremendo para mim quando me apercebi, através de umas enviusadas palavras do meu pai, que Sá Carneiro tinha morrido. Este acontecimento apanhou-me numa fase em que começava a ter alguma consciência política, e Sá Carneiro era para mim, naquela data, uma referência. Tenho a noção que não era uma referência tomada em plena consciência, a idade que eu tinha não me permitiria de todo tal plenitude, mas não posso negar que a sua personalidade e a mensagem que trespassava nos seus discursos me tinham conquistado, completamente.

Depois de assimilar melhor a notícia corri para a televisão, e a ela fiquei pregado horas e horas sempre à espera que a emissão retornasse com mais informação sobre o "acidente", que fui acompanhando emotivamente. Felizmente, nessa noite, o meu pai, apercebendo-se provavelmente do meu estado, deixou-me ficar acordado, sozinho, em frente ao ecrã da TV até à emissão acabar. O som da música funesta que passava constantemente na RTP tinha por pano de fundo, uns quantos [bastantes] foguetes que foram lançados, durante toda a noite, por "pessoas" completamente desprovidas de sentimentos. Soube nos dias seguintes que tal festança tinha tido várias [demasiadas] réplicas pelo país fora.

Durante os dias seguintes, apercebi-me que parte de Portugal chorava e que outra parte não tinha vergonha de rir dos que choravam. Como nunca conseguirei rir dos que choram, tomei consciência, nessa fatídica noite de 4 de Dezembro de 1980, que em política, há que tomar posições e aliarmo-nos àqueles que achamos melhor defenderem alguns dos princípios éticos com os quais nos identificamos plenamente, e dos quais, nunca poderemos abdicar sem correr o risco de nos deixarmos de sentir humanos.

Um dos princípios que não abdico é o da seriedade, também por isso, vou votar Cavaco Silva.
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13 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Há recordar e recordar. Fizeste bem em recordar desta forma Sá Carneiro.

sábado, dezembro 03, 2005 6:21:00 da tarde  
Blogger cãorafeiro said...

parabéns, és mais uns dos que embarcam na campanha nojenta que prostitui a memória de francisco sá carneiro, para render mais uns votos ao psd/cavaco. homem, você acorde, não acha estranho tantas comemorações. não sera mais correcto um certo decoro em tempos de pré campanha?

sabe, há 25 anos também estavamos a alguns dias das eleições- a viagem para o porto destinava-se a partipação de sá carneiro no comicio de encerramento da campanha do general soares carneiro.

todo o cerimonial do funeral foi logo utilizado para insistir na colagem entre o candidato e o falecido, foi uma vergonha. eram outros tempos, havia só um canal de televisão, etc,etc.

25 anos depois, estamos a assistir a mais do mesmo.

sábado, dezembro 03, 2005 6:25:00 da tarde  
Blogger cãorafeiro said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

sábado, dezembro 03, 2005 6:25:00 da tarde  
Blogger sabine said...

Quem se riu com o falecimento de Sá Carneiro? É preciso lembrar que as suspeitas de assassinato vem até hoje.
Ao André e aos comentadores: houve aproveitamento político na altura?

sábado, dezembro 03, 2005 7:06:00 da tarde  
Blogger sabine said...

http://diariodigital.sapo.pt/news_history.asp?section_id=0&id_news=153151

sábado, dezembro 03, 2005 9:14:00 da tarde  
Blogger Paulo said...

Eu na altura até era simpatizante da AD (mas ainda não votava), pelo que o acidente me entristeceu profundamente, mas adiante; sabia o André que a fotografia utilizada neste seu post foi uma foto "aproveitada" por Cavaco para fazer campanha eleitoral?
Nas ultimas eleições, Cavaco recusou fazer parte do famoso outdoor onde aparecia com Pinto Balsemão, Santana Lopes, Durão e Sá Carneiro, alegando que tinhas saído da política e tal (a candidatura à presidência é apenas uma interrupção da sua vida académica, a acreditar no que o homem diz). Curiosamente, 20 anos antes, aquando da campanha para as eleições que nos deram os tais 10 anos de Cavaquismo de má memória, Cavaco não hesitou em utilizar uma fotografia sua ao lado do malogrado Sá Carneiro (ver notícia). É a tal máxima: "Faz o que te digo, não faças o que eu faço", com uma pitada de malvadez e autoritarismo acrescida, tipo "Acata o que te digo Pedrocas, porque não podes fazer o que eu já fiz"; Cavaco colou-se descaradamente a Sá Carneiro, mas ver Santana Lopes fazer o mesmo já passou a ser um pecado mortal. Enfim, incoerências do tal que nunca se engana, apenas se contradiz assim muito de quando em vez, quado uma daqueles raras dúvidas que lhe assolam o espírito...

sábado, dezembro 03, 2005 9:46:00 da tarde  
Blogger André Carvalho said...

Bem... desculpem-me todos aqueles que deixaram aqui comentários só vos poder responder hoje, e, por optimização de recursos, vou tentar responder a todos simultaneamente.

Caro pedro,
Esteja descansado que essa do "muitíssimo positiva" não foi nenhuma provocação, limitei-me a escrever o que me parece ser a realidade.
Quando às cores (ou falta delas) do «GR», como já lhe disse, este projecto começou como um blogue individual por isso essa responsabilidade é minha. Também como já lhe disse, estou a pensar mudar o layout do «GR, não porque não goste da matriz gótica, mas porque acho (tal com o pedro) que neste momento talvez se adapte melhor um ambiente mais leve. Este assunto porém, será decidido de pois de ouvir outros elementos da equipa "rasca".

Caro mac,
Esta foi uma recordação pessoal, mas abrigado na mesma.

Caro cão rafeiro,
Eu não tenho qualquer responsabilidade política neste país, a não ser aquelas que me advêm enquanto cidadão, por isso não tenho nada de ter preocupações de decoro em tempos de pré-campanha ou de campanha, ou do que quer que seja. A memória de Sá Carneiro pode e deve ser evocada por todos aqueles que a respeitem, como é o meu caso. O que Sá Carneiro representa enquanto político faz parte do património nacional, só que nem todos o conseguem fazer. É isto que parece incomodar muita gente. Eu, felizmente, não tenho esse problema.

Sabine,
Não houve muito tempo para "aproveitamento" político pois as eleições presidenciais foram dias depois. A "Direita" ficou em estado de choque pois perdeu, sem qualquer margem para dúvidas, dois dos seus principais mentores, no "acidente". Logo na altura se levantou a hipótese de atentado e até em adiar as eleições, só que as "forças da esquerda" fizeram tudo para que tal não acontecesse. Depois da sua morte a "Direita" levou bastante tempo a recompor-se, com muitas lutas internas (procura de um novo líder) no PPD. Só estabilizou com Cavaco Silva. O CDS ainda manteve ao leme o Freitas do Amaral, por isso teve menos problemas internos. Também não gostei na altura da actuação do General Ramalho Eanes, que não se conseguiu abstrair de Sá Carneiro ter apresentado um candidato contra ele à presidência da república.
Mais tarde, e até hoje, muitos têm feito "aproveitamento" político da memória de Sá Carneiro, só que não acho isso nada de mais. Há quem o possa fazer, por o ter acompanhado em alguns dos seus combates políticos em prol da democracia neste país, e há quem não o possa fazer, pelos motivos opostos, ou outros motivos. Esse "aproveitamento" é algo de completamente normal e não é um exclusivo - nem de perto, nem de longe - de quem quer que seja.
Quanto às suspeitas de atentado... é o que se tem visto até hoje. Mas nem vou por aqui.
Quem se riu? Os comunistas portugueses fizeram-no e sem qualquer problema. No Alentejo as festas tiveram os seus momentos áureos. Mas nos arredores de Lisboa, terras como Setúbal, Barreiro, Sacavém, Amadora, etc... foi festança durante dias. O Álvaro Cunhal nem conseguia esconder a sua satisfação. Chegaram a fazer piadas sobre o facto dos corpos estarem carbonizados. Uma vergonha completa. (vou voltar a este assunto em outro post porque estranho que o pessoal mais novo não saiba disto)
Basta observar a linguagem que ainda hoje em dia Jerónimo de Sousa utiliza. Ainda esta semana que passou já apareceu - outra vez -com aquela das forças de direita reaccionária que têm contas a ajustar com o 25 de Abril. Isto ainda são resquícios dos discursos de sempre do PCP. Tal como o "fascistas para o campo pequeno", etc. Só que vocês são mais novos e julgam que quando os comunistas se referem aos fascistas se estão mesmo a referir realmente a fascistas. Mas não! O Freitas do Amaral era mais que fascista para eles, tal como Amaro da Costa, etc. Todos os que não concordassem com os seus princípios e orientações mais fortes, eram logo apelidados de fascistas, e o nosso povo, bastante mais inculto na época que agora, comia aquilo tudo como verdades absolutas. Sá Carneiro foi sempre uma pedra no sapato para Cunhal e Mário Soares, tal como alguns outros sociais-democratas, pois tinham uma história de luta antifascista que nem eles o podiam negar, embora, o tentassem sempre disfarçar. Se analisarmos bem o assunto, as únicas forças reaccionárias que têm realmente contas a ajustar com o 25 de Abril, são precisamente os
comunistas portugueses, pois o Portugal que eles pretendiam não é de perto nem de longe o Portugal que temos. Não temos um país perfeito, longe disso, mas pelos comunistas, a esta hora nem estávamos a discutir livremente aqui neste blogue. A liberdade para eles limitasse e sempre se limitou a políticas mais, ou menos, marxistas, tudo o resto não é democrático discutir. Depois da queda do muro de Berlim passaram um mau bocado, mas agora já se dão a ares democráticos outra vez. Sem a democracia deles passo eu muito bem.

Caro Paulo,
Se era simpatizante da AD está mais que habilitado a falar sobre estes assuntos, pois o pessoal um pouco mais novo não faz a minima ideia do ambiente que se vivia na altura. Julgam que o PCP é um partido muito democrático e até acham o Jerónimo de Sousa uma personagem bastante simpática. Não fazem ideia da crispação política que existia então na sociedade portuguesa, e da machada que foi para os comunistas (principalmente) a AD. Vou voltar a este assunto noutro post, por isso não me quero alongar muito.
Quanto à fotografia e estórias por detrás dela, não me vou a querer discutir o sexo dos anjos porque não tenho qualquer brigação de defender Cavaco Silva de nada. Eu penso pela minha cabeça e tomo as decisões que tiver que tomar "consciente" daquilo que faço. Podia arranjar dezenas de argumentos para justificar essa estória, mas acho que não o devo fazer porque estaria somente a especular (apesar de eu gostar muito de especular). A única coisa que gostaria que corrigisse porque não é verdade, é a frase que cita como sendo de Cavaco. O que ele disse, e num contexto próprio foi: "nunca tenho dúvidas e raramente me engano". Eu também não gosto desta frase, mas qualquer pode ter frases menos felizes, principalmente pessoas com a evidente dificuldade comunicativa de Cavaco Silva. O que me interessa é a acção política, embora concorde que não se podem desdenhar estes "pormenores", e que qualquer deslize possa ser alvo de "aproveitamento" político.

Obrigado pelos vossos interessantes comentários.

domingo, dezembro 04, 2005 3:50:00 da tarde  
Blogger Dinada said...

Eu tinha 16 anos. E, como o André, segui perplexa as notícias. Algo me dizia que aquilo tudo tinha um fundo pérfido.

Ainda não votava mas fazia campanha pela AD. E acho que aquele dia marcou-me para toda a vida...

domingo, dezembro 04, 2005 4:09:00 da tarde  
Blogger cãorafeiro said...

prezado andré: não me referia a si com autor de uma utilização abusiva da memória de sá carneiro, mas sim como vítima da manipulação.

digo-lhe isto porque respeito a memória de sa carneiro, e porque o respeito a si. não é do meu estilo fazer provocações gratuitas. a linguagem dos blogs deve ser agressiva, mas as críticas referem-sa ao que está escrito e não são pessoais no sentido tradicional do termo.

um conselho: evite revelar-se agastado com as críticas que contrariam o que escreve.

domingo, dezembro 04, 2005 4:24:00 da tarde  
Blogger André Carvalho said...

Cara Dinada,

Eu poucos anos a menos tinha, e também fiz campanha pela AD (mal o meu pai sabia que me baldava à escola para fazer campanha pela AD). Nessa época os mais jovens (que não votavam ainda) sentiram-se todos impelidos a participar nas campanhas. A campanha da AD era uma campanha submersa de jovens menores de 18 anos. Era uma época em que se vivia a política intensamente e os jovens viram-se forçados a vir para a rua apoiar a AD, e por vezes, confrontar, mesmo fisicamente, nas ruas, as "forças de esquerda". Tive várias situações "engraçadas" que mais tarde ou mais cedo vou escrever aqui sobre elas. Estavam em confronto duas visões políticas para a nossa sociedade e felizmente a AD venceu com maioria absoluta e deu a machadada final nas ambições políticas do PCP.

Só agora me apercebi que a maior parte dos jovens de hoje não faz a mínima ideia do que se passou, por isso acho importante o nosso testemunho.

Lembro-me de pensar o que poderia fazer a nível profissional quando fosse maior. A actividade económica privada era escassíssima, e o mais que poderíamos ambicionar era sermos funcionários públicos. Empresas privadas? Essas eram escassas e eram todas de uns tais de "fascistas".

Lembro-me tão bem como se fosse hoje.

domingo, dezembro 04, 2005 5:16:00 da tarde  
Blogger André Carvalho said...

Caro Cão rafeiro,

Gosto imenso das suas intervenções, mas não consigo de deixar de ser eu próprio. Sou bastante impulsivo e debato tudo com ardor. Contudo, tento sempre não ofender ninguém pessoalmente. Se por algum motivo se considera ofendido, peço desculpa por tal. Não foi essa, de forma alguma, a minha intenção.

domingo, dezembro 04, 2005 5:20:00 da tarde  
Blogger cãorafeiro said...

andré, não me senti ofendido. já fui ofendido inúmeras vezes na blogosfera e por isso sei distinguir ofensas de troca de pontos de vista.

apenas receei que você se tivesse ofendido ou levado para um lado mais pessoal alguma coisa que eu tenha dito.
não é do meu estilo ofender.

domingo, dezembro 04, 2005 6:07:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Cool blog, interesting information... Keep it UP » »

sexta-feira, fevereiro 02, 2007 11:34:00 da tarde  

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