sexta-feira, dezembro 16, 2005

Falar de Blogues com Pacheco Pereira, e mais qualquer coisa (Act IV)

Olhei para a minha frente para ver se conseguia reconhecer no meio da audiência o Bruno. A única referência que eu tinha para o conseguir identificar era uma fotografia, meio recortada, que ele disponibiliza no seu profile do editor Blogger e a promessa que me fez, no dia anterior [por e-mail], que iria aparecer no encontro da Almedina de gravata cor-de-rosa. Não… nada de confusões! A opção da cor da gravata do Bruno foi, segundo as suas próprias palavras, «para se distinguir no meio da multidão e para além das gravatas cor-de-rosa estarem na moda [esta custou-me a engolir mas…] sempre é menos humilhante do que ficar à entrada da Almedina de cartaz na mão como nos aeroportos.»

Foi neste meu breve périplo visual pelo público em busca de uma gravata cor-de-rosa, que acabei por focalizar a minha atenção no Professor Rogério Santos. O meu “antigo prof” e blogueiro, estava a poucos passos da minha pessoa e mantinha-se sereno na primeira fila de cadeiras, com toda a sua atenção direccionada para o discurso do conferencista, tomando, de quando em vez, umas breves notas no seu caderno. Aquela imperturbabilidade toda do Professor Rogério era a prova provadinha que até então ninguém ainda se tinha arriscado a utilizar a perniciosa palavra “blogger” em vez de “blogueiro”. Se a dita maldita palavra fosse entretanto soletrada por algum espírito mais incauto, o mínimo que eu esperaria ver era, o Professor Rogério a mandar um salto da cadeira, dirigir-se rapidamente na direcção do maléfico transgressor, e obrigá-lo a corrigir, de imediato, tão ultrajante heresia.

Quando voltei ao “filme”, Pacheco Pereira dizia algo como, «Blá, blá, blá e Eliot» e mais qualquer coisa e, «Blá, blá, blá, e a Cultura». “Eliotes” há muitos! E confesso que à primeira, pareceu-me ouvir em vez de «Eliot» a expressão «Camelot». Fiquei na dúvida, mas quando ouvi no resto da frase a tal de «Cultura» fiquei convicto que JPP se estaria a referir a T.S.Eliot e não ao famoso reino encantado do Rei Artur. Provavelmente, aquilo a que JPP se referia, deveria ter algo a ver com as ideias de Eliot modeladas no seu “Notas para uma definição de Cultura” que eu tão bem conhecia. Assim sendo, fiquei imensamente feliz por JPP se estar a referir a um autor que eu já tinha lido. Posso dizer mesmo que fiquei orgulhosíssimo, e pus-me logo a magicar se afinal também eu não seria assim como uma espécie de intelectual, só que ainda não tinha a noção que o era. Pensando melhor… nem eu tinha essa noção, nem ninguém ainda a parecia ter. Bem… talvez porque o meu intelecto afinal - ainda - não se encontrar à altura de um verdadeiro pensador, ou por me ter distraído por alguns breves momentos, a verdade é que não percebi o que é que T.S.Eliot tinha a ver com aquela conversa toda. Estaria mesmo a referir-se ao seu ensaio sobre a Cultura? Ou à sua [mais conhecida] obra poética? Pode ser que um dia destes lhe envie um e-mail e JPP me possa esclarecer sobre este assunto.

Notei então que José Carlos Abrantes estava absorto no discurso do orador. Encontrava-se ligeiramente inclinado na direcção de José Pacheco Pereira, e escutava-o com tanta atenção que se tornou óbvia a causa de o ter referido no 134º lugar do seu livro «1001 Razões para Gostar de Portugal». Naquele momento não pude deixar de sentir uma imensa admiração por José Carlos Abrantes… aquele livro deve-lhe ter dado cá um trabalheira. Até eu, que me considero uma pessoa bastante nacionalista, optimista e imaginativa, teria dificuldade em arranjar mais que meia dúzia de motivos, quanto mais, “m-i-l e u-m”.

Entretanto, [quanto a mim] numa visão mais “Adorniana” que “Eliotiana”, Pacheco Pereira aludia aos blogues como se de instrumentos da cultura de elite se tratassem, com uma forte influência nas elites nacionais… jornais, jornalistas, juízes, políticos, governantes, gestores, professores, artistas, escritores e outros “ores” e “istas”. O discurso estava a entrar num estádio tão shakespeariano que cheguei novamente a colocar em dúvida se JPP não se teria mesmo referido, lá mais para atrás, ao tal reino do rei Artur, e se não seria eu, com as minhas já habituais confusões, que estava a baralhar aquela estória toda.

(continua...)
Partilhar

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Pela descrição romanesca, quase cinematográfica, deve ter sido um encontro e pêras!!!

sexta-feira, dezembro 16, 2005 9:17:00 da tarde  
Blogger André Carvalho said...

Caríssimo Fernando Oliveira Pinto,

Estes encontros organizados pela Almedina e por José Carlos Abrantes costumam ser bastante interessantes. Este com o JPP não fugiu à regra e seria difícil que tal acontece-se, pois JPP é mesmo uma personagem cheia de mistérios e com bastante carisma. Espere pelo resto da estória e "verá"...

Cumprimentos e obrigado pela sua visita e comentário.

sexta-feira, dezembro 16, 2005 9:29:00 da tarde  

Enviar um comentário

Voltar à Página Inicial