Abril e Geração Rasca -
Lembro-me das comemorações do dia 25 de Abril com uma certa sensação de perda de tempo, coisa de adulto é certo, mas que nos meus anos de liceu já fermentava sempre no mesmo momento.
Mas antes de atiçarem os cães de fila, de afiarem as foices e prepararem comentários repletos de lugares comuns, percebam o porquê da minha relação intolerante para com os arautos do Abril saudoso.
A geração rasca, termo inventado para os meninos manifestantes à porta o ministério da Educação contra as reformas, a mostrar o rabinho para a televisão e a entrar nas casas dos portugueses e a evidenciar o que realmente se passava... faltar às aulas, arranjar confusão, brincar às revoluções, ( também eu andava por lá ) é a geração que levava constantemente na cara com o discurso do brilhante e espontaneo momento histórico de Abril, com um tom que nos avisava que apenas tinhamos acesso às suas consequências apenas por pura sorte, as quais nos diziam não sabermos aproveitar e que nunca saberiamos estar suficientemente agradecidos. A geração rasca à qual eu pertenço, cresceu sob a palavra dessas esfinges a devorar as iniciativas pois é juventude que falha em corresponder, que não era suficientemente cmerecedora para viver depois do 25 de abril, porque antes a vida era uma penumbra, onde jovens da nossa idade tinham de colocar a propaganda nas cuecas e esconder-se por debaixo das 4L quando a PIDE passava. Ora nós não, nós não podiamos continuar com a nossa vida, não nos podemos preocupar com o país, com as nossas vidas e com o mundo porque somos Rascas, porque as nossas manifestações são de meninos birrentos, que não entendemos, que somos futeis, porque na altura brincavam com o que havia, e só tinham um canal, não havia multibanco, que não sabemos o que custava. viver no fascismo – palavra espumada sempre que dita.
A geração "rasca" é a geração à qual foi imposta a obrigatoriedade da culpa por usufruir o legado, o peso da obrigação do permanente agradecimento e prostração, mesmo que isso impedisse de olhar em frente, de seguir caminho.
Mas não se enganem, pois sempre que tenho oportunidade brindo ao 25 de abril, ouço Zeca, leio sobre o assunto, leio sobre o meu país a minha história e digo à boca cheia que uso o maior trunfo do 25 de Abril... a possíbilidade de usar o meu sentido crítico.
Pertence-nos o 25 de abril e não o contrário, e hoje em dia os arautos curvos pelo tempo, mostram-se sobretudo inadaptados à mudança, ao presente ao dia de amanhã, envelhecendo de costas voltadas a geração que persistentemente os aflige e que não lhes merece a saliva, apesar de continuamente despejarem litros e litros dela.
Esses senhores, nos auditórios improvisados nas bibliotecas das escolas secundárias, olhando para nós rascas e ingratos, mostravam as chagas - que eles transformavam em gangrena para supostamente impressionar ainda mais – e acabaram por afastar em vez de aproximar, diminuir e riducularizar em vez de enaltecer aquilo que foi talvez o momento politicamente mais romantico e importante da história recente do nosso país. E à custa disso, à custa de ficarem presos naquele sumo adrenalizante de uma manhã de abril, tiveram a imprudência de descarregar numa geração as suas frustrações de um ideal que felismente se soube adaptar aqui, desistir ali, consensualizar acolá ( basta ver a evolução das constituições ).
E aquilo que disse a um capitão de abril, numa tarde de escola num dia 25 de abril vale agora tanto como o quanto valeu na altura.
- não preciso de ter vivido a situação para sentir o que significa, e a liberdade que abril me trouxe diz-me que não tenho vergonha em dizer o que penso em nenhuma circunstância.
E se alguem se sente geração rasca, é porque se sente próximo da circunstãncia que tornou famoso a denominação mais injusta dos ultimos tempos. Tenha a minha idade ou a idade da minha avó.
Não preciso de viajar pela europa toda para me sentir europeu, bem como não preciso de me encavalitar numa chaimite e distribuir cravos para me sentir grato por abril.
E não precisamos da imbecil necessidade de permanentemente etiquetar emoções e decisões como um daltónico necessita de o fazer nas suas roupas. Acima de tudo não necessitamos de julgar ou ser julgados sobre permissas extremas sobre as nossas atitudes.
Eis o erro da compartimentação ( não só na política ), essa ansia de segurança falsa, de protecção contra a indefinição, lugares para passadas curtas... hipocritamente curtas.
Brecht dizia:
“ o pior analfabeto é o analfabeto político “... e o Abril destes... o Abril que os arautos curvos apregoam, não é da geração Rasca.... e esta agradece!
Gosto muito mais do meu Abril!
Mas antes de atiçarem os cães de fila, de afiarem as foices e prepararem comentários repletos de lugares comuns, percebam o porquê da minha relação intolerante para com os arautos do Abril saudoso.
A geração rasca, termo inventado para os meninos manifestantes à porta o ministério da Educação contra as reformas, a mostrar o rabinho para a televisão e a entrar nas casas dos portugueses e a evidenciar o que realmente se passava... faltar às aulas, arranjar confusão, brincar às revoluções, ( também eu andava por lá ) é a geração que levava constantemente na cara com o discurso do brilhante e espontaneo momento histórico de Abril, com um tom que nos avisava que apenas tinhamos acesso às suas consequências apenas por pura sorte, as quais nos diziam não sabermos aproveitar e que nunca saberiamos estar suficientemente agradecidos. A geração rasca à qual eu pertenço, cresceu sob a palavra dessas esfinges a devorar as iniciativas pois é juventude que falha em corresponder, que não era suficientemente cmerecedora para viver depois do 25 de abril, porque antes a vida era uma penumbra, onde jovens da nossa idade tinham de colocar a propaganda nas cuecas e esconder-se por debaixo das 4L quando a PIDE passava. Ora nós não, nós não podiamos continuar com a nossa vida, não nos podemos preocupar com o país, com as nossas vidas e com o mundo porque somos Rascas, porque as nossas manifestações são de meninos birrentos, que não entendemos, que somos futeis, porque na altura brincavam com o que havia, e só tinham um canal, não havia multibanco, que não sabemos o que custava. viver no fascismo – palavra espumada sempre que dita.
A geração "rasca" é a geração à qual foi imposta a obrigatoriedade da culpa por usufruir o legado, o peso da obrigação do permanente agradecimento e prostração, mesmo que isso impedisse de olhar em frente, de seguir caminho.
Mas não se enganem, pois sempre que tenho oportunidade brindo ao 25 de abril, ouço Zeca, leio sobre o assunto, leio sobre o meu país a minha história e digo à boca cheia que uso o maior trunfo do 25 de Abril... a possíbilidade de usar o meu sentido crítico.
Pertence-nos o 25 de abril e não o contrário, e hoje em dia os arautos curvos pelo tempo, mostram-se sobretudo inadaptados à mudança, ao presente ao dia de amanhã, envelhecendo de costas voltadas a geração que persistentemente os aflige e que não lhes merece a saliva, apesar de continuamente despejarem litros e litros dela.
Esses senhores, nos auditórios improvisados nas bibliotecas das escolas secundárias, olhando para nós rascas e ingratos, mostravam as chagas - que eles transformavam em gangrena para supostamente impressionar ainda mais – e acabaram por afastar em vez de aproximar, diminuir e riducularizar em vez de enaltecer aquilo que foi talvez o momento politicamente mais romantico e importante da história recente do nosso país. E à custa disso, à custa de ficarem presos naquele sumo adrenalizante de uma manhã de abril, tiveram a imprudência de descarregar numa geração as suas frustrações de um ideal que felismente se soube adaptar aqui, desistir ali, consensualizar acolá ( basta ver a evolução das constituições ).
E aquilo que disse a um capitão de abril, numa tarde de escola num dia 25 de abril vale agora tanto como o quanto valeu na altura.
- não preciso de ter vivido a situação para sentir o que significa, e a liberdade que abril me trouxe diz-me que não tenho vergonha em dizer o que penso em nenhuma circunstância.
E se alguem se sente geração rasca, é porque se sente próximo da circunstãncia que tornou famoso a denominação mais injusta dos ultimos tempos. Tenha a minha idade ou a idade da minha avó.
Não preciso de viajar pela europa toda para me sentir europeu, bem como não preciso de me encavalitar numa chaimite e distribuir cravos para me sentir grato por abril.
E não precisamos da imbecil necessidade de permanentemente etiquetar emoções e decisões como um daltónico necessita de o fazer nas suas roupas. Acima de tudo não necessitamos de julgar ou ser julgados sobre permissas extremas sobre as nossas atitudes.
Eis o erro da compartimentação ( não só na política ), essa ansia de segurança falsa, de protecção contra a indefinição, lugares para passadas curtas... hipocritamente curtas.
Brecht dizia:
“ o pior analfabeto é o analfabeto político “... e o Abril destes... o Abril que os arautos curvos apregoam, não é da geração Rasca.... e esta agradece!
Gosto muito mais do meu Abril!
2 Comments:
Fabuloso Bruno! Eu também gosto muito mais do "nosso" Abril.
Acho que quase nada deve ter ficado por dizer. Gostava de ver as expressões de algumas pessoas depois de lerem este teus post. :)
Não podemos sentir da mesma forma o 25 de Abril porque não o vivemos da mesma forma.
Para além do mais as comemorações destes dias são vazias: os mesmos gestos, os mesmos discursos das mesma forma. Para além do mais, necessitamos do 25 de Abril todo o ano, não só num dia feriado.
Bruno: de uma maneira geral, concordo contigo.
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