quarta-feira, dezembro 14, 2005

Falar de Blogues com Pacheco Pereira, e mais qualquer coisa (Act III)

Não havendo sinais do Paulo Querido na costa, poderia, desta vez, focar toda a minha atenção na conferência. Esta, propriamente dita, só começou quando José Carlos Abrantes perguntou a José Pacheco Pereira (JPP) o que é que ele conseguia com os seus blogues que não fosse possível de o fazer através dos livros, da imprensa ou das suas conhecidas intervenções na rádio e televisão.

JPP não esteve com meias medidas e respondeu, «tudo!» Que cada um dos referidos meios teria as suas especificidades mas que, entre eles, poderia existir alguma complementariedade. Lembrou os presentes que não era invulgar começar a tratar de uma matéria num media, e voltar ao assunto noutros media. Essa segunda [ou terceira...] abordagem poderia ser feita: por simples repetição e eventualmente para um público diverso; numa perspectiva completamente nova; ou ainda, procurando complementar a informação ou opinião expressa nas primeiras abordagens do tema. JPP falou ainda da sua convicção em que um parte significativa dos leitores do Abrupto seguem a sua opinião nos diferentes media.

Para Pacheco Pereira os blogues têm a grande vantagem de se poder tratar os temas que se quer, sem os condicionalismos impostos por uma agenda de cariz mais mediático.

Fez questão de contrariar a tese de que o Abrupto é um blogue político, relembrando todo o auditório que escreve habitualmente sobre livros, pintura, poesia, astronomia, e outras paixões que conserva desde a infância. Acabou no entanto por ter de confessar que, por vezes, tem mesmo de fazer algum esforço para evitar a preponderância do referido tema no seu blogue, e que já tinha tido algumas “descaídas”, referindo como exemplo, a agenda do Abrupto durante o curto reinado de Pedro Santana Lopes.

Aproveitou para dizer que recusa determinantemente dar entrevistas de cinco minutos pois nunca são suficientemente esclarecedoras. "Criticou" ainda a falta de memória dos jornalistas, que o continuam a tratar como um político apesar de não exercer qualquer função nesse âmbito há anos. Salientou a este propósito a estranheza que algumas pessoas continuam a mostrar pelo facto de ele abordar temas como arte ou a astronomia no Abrupto, simplesmente por não saberem que ele, na sua juventude, fez crítica de arte no JN e também já teria trabalhado no observatório de astronomia do Porto.

[Embora não seja jornalista, a minha memória também já não é grande coisa, por isso, não sei se o jornal que JPP referiu foi realmente o JN, e nem sequer sei se o Porto tem um observatório astronómico, mas para a minha estória estas questões são de menor importância. A informação que realmente interessa reter é que JPP fez crítica de arte num jornal qualquer do Porto e exerceu um oficio qualquer relacionado com astronomia na mesma cidade.]

A palestra estava a ser interessante, e quem o estivesse a ouvir ali a falar, serenamente, nunca poderia imaginar que JPP tinha sido, nas décadas de 60 e 70 do século XX, um destacado jovem radical da extrema-esquerda, maoista, animado pela fé na “revolta global”. Perdido nas minhas já habituais divagações, e por falar em MRPP, quando dei por mim já estava a visualizar [mentalmente] um inesquecível mural na parede [exterior] da Basílica da Estrela onde constava a seguinte frase de que nunca me esqueci: «O povo libertou Arnaldo Matos, e libertará todos os antifascistas presos.» Será que JPP também tinha andado a pintalgar as paredes da Basílica, ou teve algo a ver com aquela tão bem conseguida heresia?

Nem de propósito, e por falar em heresias, foi nessa altura que olhei para trás e vi o RAF, ex-Blasfémias. Reconheci-o imediatamente do último colóquio «Falar de blogues», e como apesar de já termos trocado alguns e-mails ainda não nos tínhamos apresentado formalmente, cumprimentei-o e apresentei-me discretamente. Trocámos em voz baixa os cumprimentos costumeiros e virei-me para a frente para continuar a ouvir a palestra. Escassíssimos segundos depois, senti um toque no meu ombro esquerdo, virei-me, e o RAF - que estava de pé - baixou-se ligeiramente, aproximou-se de mim, e sorrindo, segredou junto do meu ouvido esquerdo algo do género: «Ainda bem que estamos os dois juntos, se alguém nos quiser fazer mal podemo-nos sempre ajudar mutuamente.» Estava obviamente a referir-se ao “malvado” do Paulo Querido. Numa coisa o RAF tinha razão, quando toca a confusões, quantos mais estiverem do nosso lado, melhor. Vendo as coisas por esse prisma, eu não estava nada mal. Atrás de mim, sentada, estava a minha mulher (Cristina), do meu lado esquerdo estava um dos meus companheiro de blogue, Pedro Oliveira, e o RAF também estava ali à mão de semear. Para o filme ficar completo só faltava o Bruno Ferreira, um dos membros do «GR» que eu também ainda não conhecia pessoalmente e que tinha ficado de aparecer naquele encontro.

(continua…)
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2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Eu também me lembro bem desse mural na Estrela e da frase sobre o arnaldo.

quarta-feira, dezembro 14, 2005 11:27:00 da tarde  
Blogger RAF said...

Verdade, meu caro. A tua memória é enciclopédica:).

sexta-feira, dezembro 16, 2005 1:01:00 da tarde  

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