Quase tudo sobre o «Falar de Blogues» - 5ª Parte
Quando a Joana Amaral Dias terminou a sua intervenção, levantou-se um certo burburinho na sala. Aqui e ali, algumas figuras começaram a abandonar as suas cadeiras, dirigindo-se para a saída. Contudo, os lugares que iam ficando vagos eram reocupados, envergonhadamente, por outros figurantes que, até então, se tinham vindo a aguentar, estoicamente, de pé. A deslocação do ar provocada por estes movimentos, apesar de ténue, ajudou a refrescar um pouco o ambiente.
Estiquei ligeiramente o meu braço esquerdo até que o punho da minha camisa descobrisse o meu pulso, e recolhendo novamente o braço para o meu colo, observei disfarçadamente as horas. De seguida, dirigi o olhar para o meu companheiro de blogue, que aproveitou a ocasião para me acenar com a cabeça em direcção à saída e dar, com a mão direita, duas rápidas batidas nas costas da sua mão esquerda. Nesse exacto momento, o Paulo Querido levantou-se bruscamente da cadeira e começou a dirigir-se para a mesa principal. Faço um breve sinal com a mão aberta para o Paulo Rebelo e, simultaneamente, aponto com os olhos para o Paulo Querido, que já lá ia à frente com o braço no ar a pedir o microfone a José Carlos Abrantes. O Paulo Rebelo encolheu os ombros, esfregou os olhos, acenou com a cabeça afirmativamente e, sentado, iniciou a busca do melhor ângulo de visão para o "plateau".
Aproveitei o espaço, entretanto, deixado vago à minha esquerda, pelo Paulo Querido, para me inclinar um pouco, desentorpecer as pernas, desapertar a gravata, e apoiar, nas costas da cadeira vaga, o meu braço dormente, contraído há horas.
As primeiras palavras do Querido chamaram-me logo a atenção, “acho que vou começar por partir a loiça toda”. Esbocei imediatamente um sorriso ... a coisa prometia. E, continuou: "é complicado a elite [da blogosfera] ser watchdog de quem já é watchdog há 200 anos."
Tenho que confessar, fiquei bastante decepcionado com o conceito de “partir loiça”, apresentado pelo Paulo Querido, mas mal eu sabia que o melhor ainda estava para vir.
De seguida, o Querido criticou “sub-repticiamente” o facto de não ter sido convidado para participar no programa «Clube de Jornalistas», transmitido na noite anterior [na 2:], cuja temática se tinha centrado na Blogosfera, e para o qual tinham sido convidados dois dos principais "actores" do colóquio: António Granado e Rogério Santos. Aquilo deu-me vontade de rir (e ri mesmo), pois enquanto o Professor Rogério Santos esboçava um sorriso, o António Granado, pela sua expressão, parecia nitidamente que tinha ficado com o fio do micro enrolado ao pescoço.
De seguida, Paulo Querido, fez de tudo para nos colocar a “todos” nos "nossos" devidos lugares, afirmando que, se na assistência tratávamos a tecnologia por “você”, ele tratava-a por “tu”. Estava a começar a achar graça à lata do “bicho”. Entretanto, reparei que a acompanhante do orador de ocasião, que se encontrava separada de mim pela distância de um lugar [agora] livre, observava o seu semideus, com um olhar completamente embevecido. Pensei para com os meus botões: “o amor é uma coisa muita linda”. :)
Devido a esta minha breve divagação, perdi por momentos o nexo ao discurso do Querido, e só “voltei” a tempo de apanhar qualquer coisa acerca dele ser jornalista no Expresso…
O Querido acabou por passar sem qualquer dificuldade (viu-se logo que tratava as tecnologias por “tu”) o microfone a Leonel Vicente, do blogue Memória Virtual. Não consegui ouvir nada do que o Leonel disse porque, para além de ter falado pouco e muito baixo, o Paulo Querido voltou a sentar-se ao meu lado e, para não variar, não parou de tagarelar, nem sequer por um segundo.
Já começava a ficar saturado com o calor, e preparava-me para sair de "fininho", quando surgiu um novo personagem no"plateau", que, segurando o microfone com ambas as mãos, se apresentou ao público como sendo o Rodrigo Adão Fonseca (RAF) do blogue Blasfémias. Como todos sabem, o Blasfémias é um dos blogues com maior audiência da nossa Blogosfera, e como já tinha trocado umas “ideias” por e-mail com o RAF, quis ficar mais uns momentos para [tentar] ouvir o que ele tinha para dizer e, se possível, trocar umas impressões com ele no final da palestra.
Mal o RAF se apresentou, o Paulo Querido começou, subitamente, a falar sozinho e mandou pelo menos uns dois pulos da cadeira. Achei aquela reacção um pouco estranha, mesmo para o Paulo Querido. À medida que o RAF falava, o Querido ia comentando em voz alta [quase] tudo o que ele dizia. Apercebi-me, pelos comentários do Querido, que teria existido um ligeiro quiproquó, ainda fresco, entre eles os dois… qualquer coisa relacionada como uma troca de posts mais acesa. Nada de extraordinário.
Eis quando, Paulo Querido atira para o ar a seguinte “boca”: “dêem-me umas luvas de boxe e resolvemos já aqui o assunto”. Mal o ouvi dizer isto, ofereci-me imediatamente para ir buscar ao carro as minhas. O Paulo Querido, que não me tinha ligado "népia" até então, olhou para mim de lado e manteve, por breves instantes, um silêncio desconfiado. Apercebi-me imediatamente que tinha metido água. Eu mais a minha grande boca. O homem deve ter ficado a pensar que eu era completamente louco. Que se lixe, pensei eu… não vale a pena tentar explicar-lhe que ando sempre com umas luvas de boxe no meu porta-bagagem, porque pratico boxe.
O Colóquio tinha sido muito interessante, mas o calor já estava a afectar o meu raciocínio. Já nem consegui ouvir bem as últimas perguntas que foram colocadas por umas estranhas personagens, que pareciam ter saído de um filme famoso de Ettore Scola. Só me lembro do António Granado a falar qualquer coisa acerca do citizen journalism, e do Professor Rogério Santos a bater na tecla que «não devemos confundir Blogosfera com jornalismo» e de ainda ter disposição para provocar uma rizada geral com um engraçado comentário acerca da edição dos blogues.
Quando José Carlos Abrantes deu como terminada a sessão e se silenciaram os merecidos aplausos, dirigi-me rapidamente na direcção do Professor Rogério Santos para me despedir, e sai porta fora em busca de ar “puro” e de um cigarro.
De regresso a casa, lembrei-me que talvez fosse interessante escrever um post sobre o Colóquio, «Falar de Blogues»…
THE END.
Estiquei ligeiramente o meu braço esquerdo até que o punho da minha camisa descobrisse o meu pulso, e recolhendo novamente o braço para o meu colo, observei disfarçadamente as horas. De seguida, dirigi o olhar para o meu companheiro de blogue, que aproveitou a ocasião para me acenar com a cabeça em direcção à saída e dar, com a mão direita, duas rápidas batidas nas costas da sua mão esquerda. Nesse exacto momento, o Paulo Querido levantou-se bruscamente da cadeira e começou a dirigir-se para a mesa principal. Faço um breve sinal com a mão aberta para o Paulo Rebelo e, simultaneamente, aponto com os olhos para o Paulo Querido, que já lá ia à frente com o braço no ar a pedir o microfone a José Carlos Abrantes. O Paulo Rebelo encolheu os ombros, esfregou os olhos, acenou com a cabeça afirmativamente e, sentado, iniciou a busca do melhor ângulo de visão para o "plateau".
Aproveitei o espaço, entretanto, deixado vago à minha esquerda, pelo Paulo Querido, para me inclinar um pouco, desentorpecer as pernas, desapertar a gravata, e apoiar, nas costas da cadeira vaga, o meu braço dormente, contraído há horas.
As primeiras palavras do Querido chamaram-me logo a atenção, “acho que vou começar por partir a loiça toda”. Esbocei imediatamente um sorriso ... a coisa prometia. E, continuou: "é complicado a elite [da blogosfera] ser watchdog de quem já é watchdog há 200 anos."
Tenho que confessar, fiquei bastante decepcionado com o conceito de “partir loiça”, apresentado pelo Paulo Querido, mas mal eu sabia que o melhor ainda estava para vir.
De seguida, o Querido criticou “sub-repticiamente” o facto de não ter sido convidado para participar no programa «Clube de Jornalistas», transmitido na noite anterior [na 2:], cuja temática se tinha centrado na Blogosfera, e para o qual tinham sido convidados dois dos principais "actores" do colóquio: António Granado e Rogério Santos. Aquilo deu-me vontade de rir (e ri mesmo), pois enquanto o Professor Rogério Santos esboçava um sorriso, o António Granado, pela sua expressão, parecia nitidamente que tinha ficado com o fio do micro enrolado ao pescoço.
De seguida, Paulo Querido, fez de tudo para nos colocar a “todos” nos "nossos" devidos lugares, afirmando que, se na assistência tratávamos a tecnologia por “você”, ele tratava-a por “tu”. Estava a começar a achar graça à lata do “bicho”. Entretanto, reparei que a acompanhante do orador de ocasião, que se encontrava separada de mim pela distância de um lugar [agora] livre, observava o seu semideus, com um olhar completamente embevecido. Pensei para com os meus botões: “o amor é uma coisa muita linda”. :)
Devido a esta minha breve divagação, perdi por momentos o nexo ao discurso do Querido, e só “voltei” a tempo de apanhar qualquer coisa acerca dele ser jornalista no Expresso…
O Querido acabou por passar sem qualquer dificuldade (viu-se logo que tratava as tecnologias por “tu”) o microfone a Leonel Vicente, do blogue Memória Virtual. Não consegui ouvir nada do que o Leonel disse porque, para além de ter falado pouco e muito baixo, o Paulo Querido voltou a sentar-se ao meu lado e, para não variar, não parou de tagarelar, nem sequer por um segundo.
Já começava a ficar saturado com o calor, e preparava-me para sair de "fininho", quando surgiu um novo personagem no"plateau", que, segurando o microfone com ambas as mãos, se apresentou ao público como sendo o Rodrigo Adão Fonseca (RAF) do blogue Blasfémias. Como todos sabem, o Blasfémias é um dos blogues com maior audiência da nossa Blogosfera, e como já tinha trocado umas “ideias” por e-mail com o RAF, quis ficar mais uns momentos para [tentar] ouvir o que ele tinha para dizer e, se possível, trocar umas impressões com ele no final da palestra.
Mal o RAF se apresentou, o Paulo Querido começou, subitamente, a falar sozinho e mandou pelo menos uns dois pulos da cadeira. Achei aquela reacção um pouco estranha, mesmo para o Paulo Querido. À medida que o RAF falava, o Querido ia comentando em voz alta [quase] tudo o que ele dizia. Apercebi-me, pelos comentários do Querido, que teria existido um ligeiro quiproquó, ainda fresco, entre eles os dois… qualquer coisa relacionada como uma troca de posts mais acesa. Nada de extraordinário.
Eis quando, Paulo Querido atira para o ar a seguinte “boca”: “dêem-me umas luvas de boxe e resolvemos já aqui o assunto”. Mal o ouvi dizer isto, ofereci-me imediatamente para ir buscar ao carro as minhas. O Paulo Querido, que não me tinha ligado "népia" até então, olhou para mim de lado e manteve, por breves instantes, um silêncio desconfiado. Apercebi-me imediatamente que tinha metido água. Eu mais a minha grande boca. O homem deve ter ficado a pensar que eu era completamente louco. Que se lixe, pensei eu… não vale a pena tentar explicar-lhe que ando sempre com umas luvas de boxe no meu porta-bagagem, porque pratico boxe.
O Colóquio tinha sido muito interessante, mas o calor já estava a afectar o meu raciocínio. Já nem consegui ouvir bem as últimas perguntas que foram colocadas por umas estranhas personagens, que pareciam ter saído de um filme famoso de Ettore Scola. Só me lembro do António Granado a falar qualquer coisa acerca do citizen journalism, e do Professor Rogério Santos a bater na tecla que «não devemos confundir Blogosfera com jornalismo» e de ainda ter disposição para provocar uma rizada geral com um engraçado comentário acerca da edição dos blogues.
Quando José Carlos Abrantes deu como terminada a sessão e se silenciaram os merecidos aplausos, dirigi-me rapidamente na direcção do Professor Rogério Santos para me despedir, e sai porta fora em busca de ar “puro” e de um cigarro.
De regresso a casa, lembrei-me que talvez fosse interessante escrever um post sobre o Colóquio, «Falar de Blogues»…
THE END.
9 Comments:
BRAVO! ;)
Grande André,
Estou a ver que fiz bem em ir embora mais cedo, que o Paulo de Querido tem só o nome. Eu que fui tão educadinho com ele, e o homem a praguejar se eu tinha trazido as luvas de boxe e outras coisas do estilo?
Já agora, esclareço-te que fui eu quem perguntei na véspera ao PQ porque é que ele não estava no programa; deu-me uma enorme vontade de rir quando o vi justificar-se ali perante toda a gente, sem ninguém lhe ter perguntado nada na Tertúlia!
Grande post, cheio de ironia, e que tem o condão de confirmar o que já acho há um tempo: que o PQ vive obcecado com o Blasfémias, nunca percebi porquê.
Para a próxima, temos de combinar um lanche antes, para enfrentar a tertúlia de barriga cheia. Traz as luvas, que eu levo a minha faixa do judo; acho que agora somos dois a precisar de protecção policial!
Grande post, sem dúvida!
Um grande abraço,
Rodrigo Adão da Fonseca
Estive para aparecer... Até tenho pena de não ter ido, se de facto foi como postaste.
Este teu argumento ainda é melhor que o Pulp Fiction. :)
Deixaste-me com inveja de não estar informado deste tipo de iniciativas. É sem dúvida muito positivo teres comparecido para depois elaborares este relato muito colorido e informativo.
Agora... imaginar o auditório cheio engravatados suados com luvas de box entendidos nas ferramentas da informação, é sem dúvida material kusturika! Até consigo imaginar a banda sonora por detrás.
Obrigado pelos 5 episódios da saga.
:))
Ri-me com gosto desta sui generis descrição do acontecimento. Gostei bastante da alusão ao amor.
Seria até uma grande peça de humor caso não evidenciasse a sua dificuldade de entender o real: o episódio das luvas de box foi uma piada, uma chalaça. Claro que dá mais gozo fazer transleituras. Pela partie que me toca, obrigado pelo par de gargalhadas que me fez dar.
Um abraço
André, está muito bem feito: vê lá tu que eu pensava que o Paulo Querido era uma personagem inventada por ti.
Para quem não pode ir, como eu, ler-te é fundamental!
Tirando o facto de que o António Granado me não pareceu,em nenhum momento da coisa,no sofrimento físico atroz que descreves, da fila atrás da tua a perspectiva não foi muuuito diferente...
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