Portugal repete-se

Portugal é o programa televisivo recomendado para encher os momentos mortos da programação. É como o documentário mais que batido que passa na Dois mesmo antes do televendas perto das 2 da manhã de 2ª feira.

Já vi vezes sem conta o episódio do encerramento popular das escolas com o cadeadozito e a correntinha de trazer por casa. Acho até que tenho gravado numa qualquer VHS cheia de pó - ou será BETA? – o episódio do “ Novo governo muda decisões de antigo governo”.
Sabemos também que no canal para as novelas de produção nacional independente - o SIC Notícias – está a sempre a passar o mais recente remake “ Crise no partido da oposição” a competir com as sequelas do lento melodrama “Justiça em Portugal”.

Mas o meu pesadelo continua.
Acabado de comprar toda a colecção dos DVD’s da “Vida selvagem do futebol”, vejo que a série ainda passa na sport tv, com relatos extensivos nos 3 jornais da especialidade, totalmente justificada a sua existência porque são três os grandes actores da novela... sei por exemplo que para a semana P. da Costa descobre que Valentim é seu irmão à muito desaparecido porque ambos tem um colar com metade de um objecto que quando juntos faz um lindo e reluzente apito dourado.
E até sei como acaba, os dois felizes de mão dada, à porta do tribunal, num banho de gente a gritar viva o presidente lançando rajadas de arroz e pétalas de rosa.

Já não se faz boa ficção, e não quero ser enganado.
No outro dia, na net, podia ter tirado “submarinos, portas no fundo do mar”, mas fiz o real manguito porque sei que de certeza mais dia menos dia o filme passa outra vez num domingo qualquer, numa matiné concerteza.

Tenho até uma lista se quiserem gravar para vocês:

“ costa portuguesa não tem barcos de patrulha” – imitação rasca da balada de hill street

“ o algarve é uma quarteira “

“ o meu tomate e a minha sardinha é mais pequeno que a espanhola“

...e a continuação...

“ então vai tudo para o lixo “

“ fabricas fecham, textil em crise, lá fora é que é bom “

“ meu ultimo nome é corrupto, mas o meu primeiro nome ninguém sabe – parte VIII”

“ no tempo do salazar ninguém passava fome e não havia desemprego “ – melodrama de uma família portuguesa que é concorrente do documentário:

“ eu cá sou reaccionário, defendo os trabalhadores mas não assino nada porque é mais díficil manter um compromisso do que falar mal dele a toda a hora “

E os meus favoritos:

“ estou sozinho em casa, é agosto e o país arde... outra vez! “

e

“ olha! E não é que não tenho água outra vez, que chatice, tanto tempo gasto com cimeiras luso espanholas “

Portugal repete-se... e nós com ele nos vamos repetindo!