quarta-feira, novembro 30, 2005

Entrevista comigo próprio

Se me perguntarem qual é a minha religião respondo invariavelmente, "Sou católico!".

Então, acredita em Cristo e em Deus não é?
- Não, não é! Acredito mais nos padres, porque consigo comunicar com eles se assim o entender.

E diz-se católico?
- Digo!

Então, costuma ir à Missa?
- Não... só em baptizados, casamentos e funerais. E sempre que posso, escapo-me a meio da cerimónia e vou até à porta da Igreja fumar um cigarrinho... ou dois. Volto ao meu lugar, no fim, segundos antes da benzidela geral.

Então porque é que vai?
- Por respeito por aqueles que crêem e que convivem comigo no dia à dia, e pelo ritual em si mesmo, que faz parte da minha cultura e educação.

Reza?
- Não! Prefiro meditar e imaginar.

É baptizado?
- Sou!

E casado?
- Também!

E casou-se pela Igreja Católica?
- Casei!

Mas, se não acredita...
- Mas há quem acredite por mim, e tal como eu disse, o ritual católico do casamento é um dos tais que faz parte integrante da minha cultura e educação.

Considera-se Ateu?
- Não! Religião por religião, prefiro o catolicismo.

O que tem a dizer sobre a última polémica em torno de se retirar os crucifixos nas salas de aulas?
- É uma completa parvoíce. Deixem lá os crucifixos em paz. Quando tiverem de cair, caiem. Tenho é bastante pena das crianças cujos paizinhos têm vindo a apresentar as queixas no ministerio da educação.
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14 Comments:

Blogger André Carvalho said...

Caro Pedro Silva,

1. Ironia. Eu sei que o ateismo não é uma religião... mas que às vezes parece, parece...

2. Os paizinhos podem queixar-se do que quiserem, que tenho na mesma pena é dos filhos deles. Inclusivamente, se se queixarem que os padres lhes fazem mal aos filhos porque os obrigam a ler a biblia, não é dos pais que devo ter pena mas sim dos seus filhos.

3. É mesmo! Como com Deus não consigo comunicar (pelo menos que eu saiba), e com os padres consigo, se assim o entender. É coisa que no entanto não costumo fazer, tirando o bom dia, a boa tarde, ou s boa noite da praxe... pouco mais.

Quanto ao seu segundo comentário, infelizmente não tenho tempo para me entrevistar mais profundamente, se tivesse, fazia um blogue sobre ateismo. :)

Quanto ao divulgar as conclusões, essa é uma liberdade que me cabe somente a mim. Porque, mesmo que divulgue as conclusões, nem todas as pessoas se apercebem delas da mesma forma. Como é evidente nas suas questões.

Se se quiser dar ao trabalho, analise o que eu escrevi novamente, e vai ver que pode significar muito mais coisas do que as conclusões que tirou quando o leu da primeira vez. Inclusivamente, significar o oposto do que leu. :) É a vantagem da escrita e da palavra... dá para se perceber muita, ou pouca coisa. Depende muito do escritor, e do leitor.

quinta-feira, dezembro 01, 2005 1:20:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

André Carvalho,

Subscrevo na íntegra o seu post.
Fui educado desde o antigo 1º ano até ao 7º em dois colégios, como interno, dirigidos por Padres. Já lá vão uns bons 50 anitos. Na altura não havia a "fartura" de escolas de hoje e quem vivia fora dos grandes centros não tinha grandes alternativas daí que comungo consigo o Respeito por quem tem Fé!

quinta-feira, dezembro 01, 2005 1:36:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Conclusão [da primeira leitura =)]: dizes-te católico porque não conheces outra religião!

Acreditas mais no mensageiro do que na mensagem e a prática que tens é meramente social!

[Necessidade de segunda leitura!...=)]Ia jurar que terias escrito que a tua comunicação com os padres se resumia a um "Bom dia / Boa tarde / Boa noite". Pelos vistos não escreveste, mas foi com essa ideia que fiquei... E tendo isso em mente, não me parece motivo válido para acreditar mais num padre do que num outro qualquer comunicador religioso.

Isso de ser católico por osmose não me parece bem. Acredito que possa começar assim, mas há uma altura em que se exige auto-reflexão. E aí sim, decides (ou vais decidindo) se acreditas naquilo que te venderam. Se não acreditas, não acreditas! Não me parece razoável (nem necessário) acreditar no catolicismo por simpatia, solidariedade ou respeito. Fazer isso não é ser católico, é apenas dizer que se é!
[...terceira leitura =)] - que foi, no fundo, o que fizeste: disseste que se te perguntarem dizes que és - que não quer dizer que o sejas!

quinta-feira, dezembro 01, 2005 1:59:00 da manhã  
Blogger André Carvalho said...

Cara Cristina,

Não posso dizer que a sua primeira frase seja incorrecta, mas...

realmente não conheço outra religião tão bem como a Católica, mas também não estou interessado em conhecer. Simplesmente não acredito em Religiões, nem me interessa acreditar. Contudo, não tenho nada contra quem acredita.

Conheço melhor o catolicismo porque, obviamente, faz parte das minhas práticas sociais e culturais desde sempre. Inclusivamente fiz a minha primária num colégio de Padres, e não fiquei "afectado" por isso.

A sua conclusão acerca de eu crer mais no mensageiro que na mensagem faz-me realmente pensar, mas não foi isso que eu disse. Quando me referi aos Padres, poderia ter referido a qualquer outra profissão ou pessoa (que é como eu vejo os Padres). Não acredito em "Deuses" porque nunca os vi nem falei com eles [nem creio que alguma vez os vá ver], já o mesmo não se passa com as pessoas, animais, plantas, minerais, plásticos, etc.

Pode não parecer bem ser católico por osmose, mas a verdade é que também sou do Sporting através do mesmo processo, e sinto-me bem por isso. :)

Por exemplo, eu não tenho filhos, mas caso os venha a ter, vou baptizá-los, e se possível serão educados pelos princípios católicos, porque estes fazem parte integrante da minha pessoa, e mesmo que tentasse não conseguiria "livrar-me" deles. Os princípios católicos fazem parte da nossa cultura e vida social e não têm nada que faça mal às criancinhas, bem pelo contrário. Convém é não exagerar... :)

quinta-feira, dezembro 01, 2005 12:22:00 da tarde  
Blogger sabine said...

Caro André: eu antes preferiria uma escola / centro de saúde sem crusefixos. E acredito em Deus.

quinta-feira, dezembro 01, 2005 3:25:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

André

O que me faz confusão é como te podes dizer católico sem acreditar no que quer que seja?!...

Educar os filhos pelos princípios católicos... O que entendes tu por "princípios católicos"? Surgem-me, de momento, duas respostas possíveis, sintetizáveis em algo como:
- "ama com Jesus amou"
- "sê solidário e íntegro"
Parece-me que quem crê considerará isto como sendo uma só resposta. Mas quem não crê verá isto como coisas diferentes, e poderá defender a segunda independentemente de qualquer tendência religiosa.

Ensinar o "ama como Jesus amou" quando não se acredita nisso, parece-me incongruente. E fazê-lo só porque também em tempos nos fizeram, ou só porque a maioria assim o diz... [nem sei que te diga!] é, pelo menos, desvalorizar completamente todo o nosso sentido crítico.

Se a ideia é ensinar princípios de solidariedade e integridade, acho muito bem, mas isso não é exclusivo do catolicismo. A formação moral e religiosa não devem ser confundidas!

Quanto à parte do "não têm nada que faça mal às criancinhas, bem pelo contrário"... Experimente ler o que se escreveu no post imediatemente anterior a este.

Por fim, aquilo da comparação com o futebol foi um momento de descontracção, certo? Não estás mesmo convencido que se segue uma religião como se segue um clube de futebol, pois não?!...


[nota final: A resposta directa sai-me mais naturalmente dirigida a uma segunda pessoa, mas se fizeres questão no "você" é só avisares...]

quinta-feira, dezembro 01, 2005 5:23:00 da tarde  
Blogger sabine said...

André: se realmentre pensas assim, isto é pura hipocrisia!

quinta-feira, dezembro 01, 2005 7:19:00 da tarde  
Blogger André Carvalho said...

Caras Cristina e Sabine,

Em minha defesa, trago aqui estas palavras:

«A metafísica pareceu-me sempre uma forma prolongada de loucura latente. Se conhecêssemos a verdade, vê-la-íamos; tudo o mais é sistema e arredores.Basta-nos, se pensarmos, a incompreensibilidade do universo; querer compreendê-lo é ser menos que homens, porque ser homem é saber que não se compreende. Trazem-me a fé como um embrulho fechado numa salva alheia. Querem que o aceite, mas que não o abra. Trazem-me a ciência, como uma faca num prato, com que abrirei as folhas de um livro de páginas brancas. Trazem-me a dúvida, como pó dentro de uma caixa; mais para que me trazem a caixa se ela não tem senão pó?
Na falta de saber, escrevo; e uso os grandes termos da Verdade alheios conforme as exigências da emoção. Se a emoção é clara e fatal, naturalmente, dos deuses e assim a enquadro numa consiência do mundo múltiplo. Se a emoção é profunda, falo, naturalmente, de Deus, e assim a engasto numa consciência una. Se a emoção é um pensamento, falo, naturalmente, do Destino, e assim a encosto à parede.
Uma vezes o próprio ritmo da frase exigirá Deus e não Deuses: outras vezes, impor-se-ão as duas silabas de Deuses e mudo verbalmente de universo; outras vezes pesarão, ao contrário, as necessidades de uma rima íntima, um deslocamento do ritmo, um sobressalto de emoção e o politeísmo ou o monoteísmo amolda-se e prefere-se.
Os Deuses são uma função do estilo.»

Fernando Pessoa

quinta-feira, dezembro 01, 2005 11:55:00 da tarde  
Blogger sabine said...

André: usar citações de Fernando Pessoa não vale!

sexta-feira, dezembro 02, 2005 8:04:00 da manhã  
Blogger André Carvalho said...

Que não seja por causa disso Sabine. Se tu ou a Cristina acharem que ainda há algo por explicar, posso voltar sem qualquer problema ao assunto. Simplesmente achei que ao colocar um texto de Pessoa vocês me dessem o benefício da dúvida e de saber que há mais pessoas que pensam como eu (ou eu como elas) mas que não são adjectivadas de hipócritas por causa disso. :)

sexta-feira, dezembro 02, 2005 11:32:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Desculpa lá, André, mas não percebi como a tua citação de Pessoa te iliba de qualquer das incongruências [ou hipocrisias, como quiserem] apontadas.

O que me parece é que o tal "embrulho fechado numa salva alheia" foi por ti aberto... e encontrado vazio! Mas, no entanto, voltaste a fechá-lo e estás disposto a oferecê-lo a alguém dizendo-lhe, como te disseram, que não o abra.

Tendo em conta que não acreditas em Deus nem em Deuses, a tua emoção é pensamento, e, portanto os últimos parágrafos deveriam ser ignorados nesta conversa.

Olhemos, no entanto, por momentos, para os deuses como "uma função do estilo" - que me parece que era aí que querias chegar - associados às tais diferentes emoções e ritmos de frase. Isso exigir-te-ia uma conclusão como a de Pessoa: "o politeísmo ou o monoteísmo amolda-se e prefere-se". Se afinal é isto que defendes, como te podes dizer católico?!...

Estás a perceber as incongruências?

sábado, dezembro 03, 2005 3:25:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Quando eu era criança, ofereceram-me, a mim e a todos os meus amigos, uns embrulhos muito bonitos, fechados, como manda a tradição. Toda a gente que eu conheço recebeu um embrulho destes. O meu embrulho, pelo peso, parecia ter algo lá dentro, por isso abanei-o com cuidado, para tentar perceber que tipo de coisa traria, não consegui perceber. Fiquei curioso e acabei por o abrir. Tinha coisas maravilhosas e outras nem por isso. Fui tirando tudo aquilo que encontrava e que gostava, e fui lá deixando aquelas coisas que não apreciava ou que não entendia para que é que serviam. Fechei a caixa novamente e guardei-a num lugar seguro. Por vezes, por curiosidade ou necessidade, vou lá ver se há algo que me interessa, outras, vou lá guardar coisas que deixei de apreciar.

Sei que existem outros embrulhos mais ou menos parecidos, mas este foi o que me ofereceram primeiro e não tenho espaço para guardar mais embrulhos.

Como manda a tradição, vou deixar este embrulho aos meus herdeiros, e eles que façam as suas escolhas, tal como eu fiz as minhas.

segunda-feira, dezembro 05, 2005 12:12:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

André

Agora defendeste-te melhor do que com Pessoa, mas mesmo assim...

Aquilo que não entendeste são outras caixinhas fechadas - indispensáveis a qualquer tipo de crença. Mantê-las gurdadas é exactamente ter fé - em alguma coisa... Se não, a única coisa que resta é o tal pó da dúvida. Em que é que ficamos: é fé ou é dúvida?

Eu não critiquei as tuas crenças! O que não é coerente é dizeres-te católico não crente!!! É claro que não tens de acreditar em tudo o que que acreditava a tua avó nem sequer da mesma forma que ela o fazia. Mas tens de acreditar em alguma coisa! Certo?...

Quanto à oferta por tradição... Apetece dizer que "a tradição já não é o que era". Mas, desde que apoies a mensagem que ela transmite, tudo bem - apoias? Resta, por fim, saber se o embrulho que oferecerás é um igual ao que recebeste ou um como o que agora guardas...

quarta-feira, dezembro 07, 2005 12:20:00 da manhã  
Blogger André Carvalho said...

Cara Cristina,

Antes de voltar a este assunto, gostaria que me enviasse um e-mail porque queria fazer-lhe uma pergunta que não tem nada a ver com este assunto.

Obrigado.

quinta-feira, dezembro 08, 2005 6:26:00 da tarde  

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