domingo, maio 13, 2007

França I

Há alguns dias, andava eu em deambulações profissionais pelo Porto, quando um casal de turistas franceses abeirou-se de mim para me perguntar onde ficava a estação de metro mais próxima. Eu, como bom português que sou, facilitei-lhe a vida e respondi em francês. Indiquei-lhe o caminho, desejei ao parzinho uma boa estadia (temos de preservar o turismo, mesmo o dos franceses que andam de metro...) e despedi-me. Nisto, vejo o homem muito espantado a perguntar se eu sabia falar francês. Um pouco, respondi-lhe eu. Se já tinha sido emigrante foi a pergunta que se seguiu. E eu lá disse que não, que era mesmo francês da escolinha. Agradeceu e desapareceu.

Esta pequena estória serve para legitimar um pouco mais o que eu penso dos franceses. São um povo que se julga superior, arrogante q.b., que pensa que a Europa é constituída pelas suas Luzes e pelas trevas dos outros, que tentam à saciedade iluminar com a sua cultura infinitamente mais humana, e que entendem que um português é alguém que sabe lavar escadas e nunca alguém capaz de balbuciar onde fica uma estação de metro na melhor língua do mundo: a deles.

Talvez por isso concorde com Vasco Pulido Valente quando diz no Público de sexta-feira que «Apesar da cosmética, ele [Sarko] e Ségolène vivem noutra era e, no fundo, não importa muito qual dos dois se aplicará agora a conservar o “arcaísmo francês”». A França quer criar um directório para a Europa, onde mande ela, claro, pois só ela encarna o espírito europeu; quer criar uma União Mediterrânica, para dominar o Oeste Europeu, quando ainda não se apercebeu que dentro desse Mediterrâneo há um país [Espanha] que já «conta mais» internacionalmente, em alguns aspectos realmente importantes, do que a França, e quer ser amiga dos norte-americanos «porque sim», mas parece esquecer-se que, quer entre homens quer entre países, uma relação de amizade tem por base a confiança e essa não se conquista com palavras doces depois de desconfianças de décadas.
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