sábado, março 17, 2007

Sweetest Thing

Pedir desculpa, retratar-se ou reconhecer faltas e erros nem sempre se apresenta como a mais fácil das tarefas na vida a dois. Certo é que depende mais de factores de personalidade das partes envolvidas do que exteriores aos opositores beligerantes. A verbalização surge como uma tarefa hercúlea, não raras vezes inexequível e, na sua impossibilidade, mas adivinhando-se e desejando-se a acalmia da tempestade, o dia-a-dia começa então a colorir-se de gestos delico-doces, subitamente mais carinhosos, uma chamada inesperada, um sms igualmente surpreendente, um gesto ressuscitado na rotina dos dias pálidos. Assim se irá caminhando até que a voracidade do tempo degluta os episódios inconsequentes da partilha do quotidiano. A dois, é sabido, vigoram as regras desses dois, e, nas regras desses dois, a panóplia da dinâmica dual aumenta significativamente. Há, portanto, os mais intempestivos e coléricos, entre os quais desgraçadamente me incluo e que com duas ou três palavras, mais do que estas, confesso, desancam e arrumam os infortúnios e as mágoas. Existe, porém, uma categoria mais sofisticada de manipuladores natos, sedutores irredutíveis de inominável sensualidade sub-reptícia, aos quais dificilmente se resiste. Pode ser aquele ar de quem acabou de sair do banho, perfumado e barbeado, a fragrância subtil do pescoço másculo, o outro, de quem carrega a rotina aos ombros ou um infortúnio temporário, mesmo sem banho nem barba feita. A verdade é que esta raça estuporada possui insondáveis e misteriosos poderes.
Paul Hewson, de sua graça, Bono Vox no mundo do showbiz e da música, pertencerá sem qualquer dúvida a esta estirpe. Conta-se que se terá esquecido do aniversário de Ali Hewson, sua mulher, enquanto gravava The Joshua Tree. Os fãs certamente perdoar-lhe-iam o esquecimento perante a intensidade e excelência do álbum, mas na vida a dois nem tudo é assim fácil e as mulheres, sabe-se, são capazes de chorar semanas a fio perante a falta sem perdão, martirizando-se e martirizando o infractor, infligindo-lhe penas recheadas e cobertas de malvadezas várias. Desconheço o que terá feito Ali Hewson no momento. Sabe-se o que Bono fez: compôs-lhe uma música e dedicou-lha. Mulher alguma resistiria a tal talento. Ain´t that the sweetest thing?

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2 Comments:

Blogger trugia said...

parece que a estória é verdadeira sim senhor, e a srª bono vox aceitou as desculpas, mas...não recusou os direitos de autor nem uma vez, dizem as más linguas que o single foi incluido no "best of" mesmo por causa disso. trabalho é trabalho, conhaque é conhaque... abraço

domingo, março 18, 2007 12:17:00 da manhã  
Blogger LeonorBarros said...

Pelo que sei, a receita do single reverteu a favor de um projecto de caridade para ajudar as crianças de Chernobyl, a pedido de Alison Hewson. Também curioso é o tema só ter visto a luz da ribalta uns dez anos depois de composto e a quantidade de celebridades que Bono convidou para a gravação do clip em Dublin, incluindo a própria Ali ;-)
Abraço e bom Domingo

domingo, março 18, 2007 10:46:00 da manhã  

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