sábado, novembro 11, 2006

a diferença entre um quiosque e a blogosfera

Este artigo de José Pacheco Pereira é extraordinariamente interessante em todos os aspectos:

- a questão central (blogues e imprensa tradicional - afinal a diferença entre ambos os lixos é assim tão grande?)

- as entrelinhas (por exemplo, 90% dos bloguers são lixo, não respeitam os intelectuais)

Compreendo a razão de qualquer verdadeiro intelectual se sentir tão desiludido com o género humano.

Um verdadeiro intelectual, seja de esquerda ou de direita, conhece os campos ideológicos opostos, de uma forma bastante mais aprofundada, que os próprios líderes dos partidos.

Um verdadeiro intelectual tanto conhece como se considera "acima" de qualquer líder partidário, líder esse que ele bem lá no fundo despreza.

Normalmente, o senhor que ganha os votos, o líder partidário, é-lhe inferior em termos de conhecimento e cultura (daí o ódio genético de uma determinada elite a Cavaco e a Sócrates, o primeiro porque é um homem dos números e, para a esquerda este é um pecado capital, números e cultura são, para uma determinada esquerda, incompatíveis, o segundo porque debita cultura elástica, bem mastigada antes das entrevistas e deitada fora logo a seguir à prova de fogo).

Compreendo, por isso, o ódio de um verdadeiro intelectual à popularidade de determinado político que ele repudia, essencialmente, pela falta de cultura e conhecimento.

JPP, pertence à classe dos verdadeiros intelectuais.

E o seu desprezo em relação à maior parte da classe política é compreensível, mas não pode ser misturado no mesmo caldeirão, que o menosprezo da população em geral, as razões que o movem são de outra índole, resultam de reflexão, enquanto as da população em geral resultam apenas da vivência da experiência autárquica e dos governantes.

Isto é uma de natureza racional e outra de índole emocional.

Apesar de, se lhes der jeito, votarem [população] novamente no político que desprezam.

A razão do desdém dos verdadeiros intelectuais pelo povo é que a sua utopia de povo, não se adequa, adequou ou adequará à realidade.

Há uma massa anónima à qual pouco importa a cultura e o conhecimento abstracto/racional, as suas aspirações são necessariamente de índole mais prática: dinheiro para comer, vestir, comprar um carro, ter uma casa, divertir-se, etc.

E o mais terrível para um intelectual é perceber que essa massa anónima rejeita a educação, tem pouco respeito pelos intelectuais e demonstra, por vezes, orgulho na sua ignorância e acima de tudo tem o comportamento do serial killer, é cobarde e adora fazer mal, com os mesmos métodos sádicos e anónimos, ao maior número de pessoas possível.

Obviamente que o "fazer mal" não passa, na maior parte dos casos, da difamação corriqueira de aldeia, vila ou cidade.

A dicotomia entre a utopia marxista de povo e o povo real é o que torna a humanidade um "monstro" para um verdadeiro intelectual, até porque, acima de tudo, através da razão, ele não consegue perceber porque é que um género humano tão inferior é igualmente capaz de actos grandiosos.

O problema de um verdadeiro intelectual é viver no mundo dos livros, o mundo dos livros, salvo Shakespeare e outros pares ilustres, pouco acrescentam sobre as verdadeiras razões que movem o género humano.

Shakespeare, como ninguém, soube que nenhum homem deverá ser colocado à prova, pois a sua animalidade, rapidamente, virá ao de cima.

E olhando para o percurso da humanidade, um céptico rapidamente chegará à conclusão que o nosso fim será, provavelmente, o regresso à condição pré-histórica.
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